fotos : Mauro Restiffe
DESÍGNIOS Pintura mural de Iran do Espírito Santo: desenhos mostram os caminhos das ideias

7ª Bienal do MERCOSUL: Grito e escu ta/ Cais do Porto, Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), Santander Cultural, Espaços públicos – Porto Alegre/ 16/10 a 29/11

fotos : Mauro Restiffe
CANTEIRO Curadora Laura Lima passeia em "Absurdo": obras sobre terra

A Bienal grita, escuta e se faz escutar. Tudo indica que a intensa movimentação que, desde julho, já se sente em Porto Alegre continuará após a abertura oficial da Bienal do Mercosul. Todo o barulho gerado pela presença de artistas residentes vindos de diversos países e Estados brasileiros será amplificado pelo tema desta 7ª edição do evento, "Grito e Escuta", e fará jus ao eixo central da exposição: a ênfase nos processos de criação. Com curadoria-geral da argentina Victoria Noorthoorn e do chileno Camilo Yañez, a mostra conta com a participação de mais de 200 artistas e se estrutura em sete exposições, uma rádio, um programa editorial e um projeto pedagógico.

Nove artistas foram chamados para participar da formatação da mostra. Saem os teóricos, entra "gente que faz". O resultado é uma equipe formada basicamente por curadores-artistas, em uma mostra marcada por programas que se entrecruzam, se confundem e se contradizem. Positivamente. Essa "dança das cadeiras", como a curadora Laura Lima define a troca de papéis entre artistas e curadores, tem o intuito de romper hierarquias e apresentar novos modelos de exposições. Laura faz a curadoria de "Absurdo", exposição em que 12 artistas são convidados a instalar seus trabalhos em um armazém cheio de terra.

fotos : Mauro Restiffe
OBRA ABERTA Trabalho de Nicolas Floc’h só é concluído quando é trocado por objeto real
fotos : Mauro Restiffe
CRIAÇÃO COLETIVA Videoinstalação luminosa da suíça Daniele Buetti

Outra proposta que se destaca é "A Árvore Magnética", em que os trabalhos são programados para serem modificados dez vezes ao longo da exibição. Ao ser convidada para apresentar uma obra que se transformasse, a videoensaísta chilena Ingrid Wildi optou por conjugar, em diferentes telas, filmes realizados na última década e as referências teóricas e diagramas de suas pesquisas. A obra é o making of de um laborioso processo criativo e a afirmação de que, muitas vezes, um artista realiza muitas obras em uma só.

A diversidade de propostas não esconde um sentido comum a toda mostra: pensar os limites formais das exposições de arte. Esse é o intuito da exposição "Texto Público", em que a cidade, suas vias públicas e meios de comunicação são a matéria prima das obras (leia quadro) e do programa de residências, que deu a 14 artistas a possibilidade de se misturar com a população, desenvolvendo atividades em Porto Alegre e em nove regiões do Estado.

Um desses artistas-residentes, o francês Nicolas Floc’h, realizou junto a três comunidades "A Grande Troca – Um Projeto para Desejos Coletivos". Sua proposta foi produzir, com os moradores, objetos que representassem desejos de consumo. Camisetas, latas de tinta, instrumentos musicais e até um microônibus confeccionado em madeira, em escala real, materializam um trabalho que começou a ser feito muito antes de a Bienal inaugurar e se estenderá por tempo indeterminado. Realizadas coletivamente por artistas anônimos, essas obras de arte estão expostas a quem queira trocá-las por objetos reais.

"O projeto só se conclui quando a troca acontece", afirma Floc’h. Bastante representativa da proposta da Bienal, essa obra permanece aberta e inacabada. Como toda Bienal, em constante transformação.

Gabriela Motta, de Porto Alegre (RS)

Diálogo entre arte e jornalismo

O ensaio fotográfico da seção de artes visuais desta semana integra o projeto "Fotojornalismo", de Mauro Restiffe. Artista convidado da 7ª Bienal do Mercosul, Restiffe procurou Is toé e se ofereceu como fotógrafo para cobrir pautas jornalísticas definidas pela revista. Proposta aceita, ele foi pautado para cobrir a montagem da própria Bienal.

fotos : Mauro Restiffe

O projeto exigiu de ambas as partes uma negociação: o artista se submeteu às regras do jornalismo – foi pautado e se enquadrou em uma estrutura de prazos rigorosos – e a redação se adequou à regra do jogo do artista, aceitando trabalhar com imagens em P&B, produzidas por um equipamento analógico que há muitos anos já não faz parte dos procedimentos da imprensa. Feliz resultado de uma troca de gentilezas e de restrições, o presente ensaio dá continuidade à série realizada pelo artista para o jornal "Zero Hora", em exibição na exposição "Texto Público", no Cais do Porto (foto). Esta é uma das sete exposições da Bienal, que, segundo o curador Artur Lescher, apresentam trabalhos que ocupam os espaços sonoros, as vias públicas e os meios de comunicação.