BRIGA DE GIGANTES Astronauta chinês ruma para o embarque na nave Shenzhou 5

Uma notícia surpreendente fez com que o mundo voltasse seus olhos para a Lua com curiosidade há duas semanas. Logo em sua primeira missão espacial, a Índia anunciou a descoberta de moléculas de água nas regiões polares do satélite.

Dias depois, os americanos lançaram um pequeno foguete contra a Lua, a uma velocidade de nove mil km/h. O objetivo do bombardeio era analisar a poeira cósmica levantada pelo impacto em busca de traços d’água.

Mas os primeiros indícios revelaram que a estratégia não surtiu o efeito esperado. "A missão não foi um fracasso. O único problema foi não tornar pública a possibilidade de uma falha. Criou-se uma expectativa muito grande", disse Ramon de Paula, cientista espacial brasileiro e chefe da missão MRO (Mars Reconnaissance Orbiter), da Nasa.

A sucessão de fatos não deixa dúvida: uma nova corrida espacial está em curso. E, desta vez, americanos e russos (ou ex-soviéticos) não serão os únicos na disputa. A partir de dezembro de 1991, com a extinção da União Soviética e depois de três décadas de luta pela supremacia no espaço, os americanos correram praticamente sozinhos na exploração do universo e espalharam sondas por todos os cantos do sistema solar.

Agora, neste início do século XXI, o foco é a colonização da Lua. Segundo autoridades da Nasa, a China é a concorrente mais competitiva. "É possível que os chineses queiram colocar gente na Lua e podem fazer isso antes de nós. Capacidade técnica eles têm", afirmou Michael Griffin, administrador da Nasa.

Em 2003, a China tornou-se o terceiro país a colocar um homem em órbita. O astronauta Yang Liwei passou 21 horas ao redor da Terra, a bordo da nave Shenzhou 5. No ano passado, um chinês caminhou no espaço. E agora o país pretende acoplar espaçonaves para formar um laboratório, passo que antecede a construção de uma estação espacial.

"Tanto a Rússia quanto a Índia, o Japão e a Agência Espacial Europeia (ESA) estão buscando cooperar com os americanos para novas descobertas. Já a China quer autonomia para competir", diz Salvador Nogueira, jornalista e autor do livro "Rumo ao Infinito". Há rumores de que a próxima missão chinesa seja fincar a bandeira do país em solo lunar.

"Isso será inevitável", afirma o diretor da agência espacial chinesa, CNSA, Sun Laiyan. A Índia entrou no páreo em 2008, com investimentos na casa de US$ 80 milhões. O objetivo, concretizado neste ano, era lançar sua primeira missão não tripulada à Lua. A espaçonave Chandrayaan 1 levou 16 horas para entrar na órbita do satélite e redesenhar mapas da superfície lunar.

Depois de completada a missão, o desafio dos indianos será colocar um astronauta no espaço, o que está previsto para ocorrer em meados de 2012. Por outro lado, Nasa e ESA pretendem explorar a Lua em conjunto em 2016. "Os americanos estão sendo realistas. Estão buscando parcerias porque tiveram um forte corte de gastos", diz Nogueira.

Os russos também disputam a nova corrida espacial e estão investindo cerca de US$ 8 bilhões para o desenvolvimento de novas naves entre 2009 e 2011. "A Rússia já tem mais de 100 satélites e queremos mais", disse o primeiro-ministro Vladimir Putin. Só resta saber se teremos um congestionamento de espaçonaves no solo lunar até 2016.