O próximo passo do grupo de Duke é investigar se o tecido tem efeito benéfico no tratamento de infarto – por enquanto, a pesquisa será feita ainda em animais. O que se quer, nesse caso, é saber se o adesivo consegue se integrar ao coração das cobaias, assumindo as funções da parte do tecido que foi lesada pelo evento. “Mas também queremos testar o adesivo no tratamento de insuficiência cardíaca. E, potencialmente, ele pode ser útil ainda para reparar defeitos congênitos”, disse à ISTOÉ o pesquisador Nenad Bursac, um dos coordenadores do trabalho. Os cientistas da Universidade de Washington pretendem testar seu adesivo para os mesmos problemas apontados por seus colegas de Duke.

A meta da equipe responsável pelo terceiro experimento é outra, pelo menos em uma primeira etapa. O time, que reúne pesquisadores das universidades de Harvard, nos EUA, e de Groningen, na Holanda, quer criar tecido específico para os ventrículos cardíacos. O primeiro passo nesse sentido foi muito bemsucedido. A partir de células embrionárias de ratos, eles conseguiram criar um sistema de identificação, por cores, capaz de apontar quais as células que dão origem ao tecido dessas duas câmaras do coração. Usando as peças certas, criaram o tecido que desejavam. “E regeneramos o tecido ventricular nas experiências que fizemos em laboratório”, contou à ISTOÉ o cientista Ibrahim Domian, autor principal do estudo, publicado na última edição da revista “Science”.

Todos os três grupos de cientistas afirmam que muita pesquisa será necessária para que esses adesivos gerados nos laboratórios cheguem aos hospitais. Mas os pesquisadores estão otimistas em relação ao que já obtiveram até agora. “Eles são um primeiro e importante passo para que esse tratamento se torne realidade”, disse Ibrahim.

 

 

 

Um dos maiores objetivos da medicina é substituir órgãos humanos defeituosos por outros, novinhos, ou pelo menos trocar a parte imperfeita, sem que seja necessário fazer um transplante. Na última semana, o anúncio de três novos experimentos mostrou que a meta está cada vez mais perto, pelo menos na área da cardiologia. Cada um a seu modo, os estudos demonstraram, pela primeira vez, que há boas chances de a ciência conseguir reconstruir o coração.

O trabalho com resultados mais impressionantes foi realizado na Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Coordenados pelo professor Charles Murry, os pesquisadores desenvolveram um pedaço de tecido do músculo cardíaco capaz de se contrair e de pulsar em um ritmo equivalente a até 120 batimentos por minuto – o coração de um adulto em repouso apresenta a média de 70 batimentos por minuto. Em um vídeo preparado pelos cientistas, é possível, inclusive, ver a amostra pulsando.

Para gerar o que os pesquisadores chamam de “adesivo” cardíaco, os estudiosos de Washington usaram células- tronco humanas. O segredo do sucesso da experiência, nesse caso, foi a mistura de células-tronco capazes de gerar células do músculo cardíaco com células-tronco que dão origem a vasos sanguíneos. Os cientistas decidiram fazer essa combinação depois de constatarem que amostras confeccionadas em estudos anteriores não se mostraram promissoras justamente pela falta de uma rede de irrigação sanguínea que garantisse o suprimento dos nutrientes necessários ao seu funcionamento. “Aprendemos que a interação entre as células do músculo do coração e as células vasculares é a chave para garantir que o tecido sobreviva depois de implantado”, explicou Murry à ISTOÉ. “Ficamos muito felizes quando conseguimos ver que, com o suporte dos vasos sanguíneos, ele funciona.”

No experimento conduzido na Universidade de Duke, também nos Estados Unidos, os pesquisadores usaram células-tronco extraídas de animais para gerar células de tecido muscular cardíaco. E adicionaram a elas células de fibroblastos cardíacos, fundamentais para dar suporte ao crescimento do tecido. Em seguida, o material foi colocado em um molde tridimensional, por meio do qual foi possível controlar a direção em que as células proliferavam. Ao final, os cientistas verificaram que o adesivo – a exemplo daquele que foi criado na Universidade de Washington – manifestou a habilidade de se contrair e de conduzir impulsos elétricos, dois dos mais importantes atributos das células cardíacas.