21/10/2009 - 10:00
O mundo comemorou quando cientistas anunciaram, no dia 24 de setembro, que pela primeira vez uma vacina tinha diminuído o risco de infecção pelo HIV em humanos. Menos de três semanas depois, um balde de água fria: a informação de que a vacina teria reduzido em 31,2% as chances de contrair o vírus não era conclusiva.
Uma análise das pessoas infectadas revelou que a eficácia poderia não passar de 26% – o que eliminaria a relevância estatística dos testes. Em outras palavras, a aparente proteção pode ter sido mera questão de sorte. O estudo sobre a vacina foi feito na Tailândia com 16 mil voluntários, coordenado pelos governos americano e tailandês.
Os responsáveis pelo trabalho se recusaram a detalhá-lo antes da terça-feira 20, quando os dados serão discutidos em uma conferência em Paris. Na pesquisa, metade dos participantes tomou a vacina e a outra, placebo, ambos aplicados em seis doses. No total, 125 pessoas foram infectadas durante o trabalho. Foi com esse número que os cientistas chegaram à eficácia de 31,2%.
O problema é que nem todas tomaram as doses nas datas corretas e algumas contraíram o vírus antes de completar a série. Excluindo esses casos, o número de contaminados cai para 86, deixando a eficácia em 26% e tornando a margem de erro grande demais para possibilitar conclusões definitivas.
Defesa Fauci diz que não informou dados para evitar confundir as pessoas |
Esse dado constava do trabalho, mas não foi divulgado. "Achamos que colocar diversas análises estatísticas confundiria a todos", afirmou Anthony Fauci, coordenador do trabalho. Mas parte da comunidade científica está questionando por que a análise completa não foi noticiada – as dúvidas só foram levantadas quando pesquisadores que não fizeram parte dos experimentos tiveram acesso à pesquisa.
"Seria melhor se tivéssemos tido acesso aos dados de cara", diz Esper Kallás, responsável por pesquisas de vacinas contra o HIV na Universidade de São Paulo. "O fato de terem saído duas informações diferentes colocou em dúvida o resultado da experiência", completa Artur Kalichman, coordenador-adjunto do Programa DST/ Aids de São Paulo.
Os críticos dizem ainda que o ideal seria que o segundo resultado, obtido já com a exclusão de participantes, confirmasse o primeiro, mais geral. O Exército americano, que colaborou com os testes, colocou panos quentes: argumentou que a primeira avaliação é mais compatível com as situações reais de vacinação e que os coordenadores queriam divulgar os bons resultados o quanto antes possível. Mas o resultado foi o inverso. Na ânsia pela notícia boa, Fauci e seu grupo acabaram criando ainda mais ceticismo em torno da pesquisa.