Duas construções instaladas temporariamente em espaços públicos do Rio abrigam histórias de outros cantos do mundo que ganham nuances e reflexos locais, na medida em que são atravessadas pelo público carioca. “Cabana Explodida”, do artista francês Daniel Buren, instalada no Parque Dois Irmãos, é parte de um projeto que vem sendo desenvolvido desde os anos 1970, em que paredes, portas e janelas são reconfiguradas em diferentes espaços. As superfícies coloridas e espelhadas provocam “explosões” visuais e metafóricas da obra, através da refração da luz, impregnando e modificando o local onde ela se insere.

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PENETRÁVEIS
Instalações de Daniel Buren (acima) e Song Dong (abaixo),
realizadas com portas e janelas, abrem-se para o público

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My City, do artista chinês Song Dong, instalado da rotunda do Centro Cultural Banco do Brasil, é uma instalação com materiais de demolição obtidos no Brasil somados a uma porta vermelha, trazida da casa do artista em Pequim. Quem passa por aquela porta supera a superficialidade de uma fachada que pode se assemelhar com uma favela local, e encontra lá dentro um universo íntimo e fantástico do artista. Ao mesmo tempo, assim como ocorre na cabana de Buren, ve-se espelhado nas paredes e é fundido àquela realidade distante.

Song Dong nasceu no ano da revolução cultural de Mao Tse Tung, e é um dos pioneiros da arte conceitual chinesa, que, ao contrário do que aconteceu no Brasil, foi totalmente paralisada pelo regime ditatorial. O livro lançado concomitantemente à exposição do Rio, editado pela Automática e organizado por Sarina Tang, conta a história da relação de Dong com o Brasil. Desde sua participação na Bienal de São Paulo de 2005 até a apresentação da obra My City em São Paulo.

No texto do livro, Sarina faz uma interessante comparação do artista com Lygia Clark. Mas a realidade é que as experiências tanto de Song Dong quanto de Buren no Rio – ambos trazidos à cidade pelo projeto “OIR-Intra”, curadoria de Marcello Dantas – não podem ser dissociadas dos penetráveis de Oiticica. “O interior é infinito, mas é um interior infinito virtual”, diz Song Dong a respeito de sua cabana, em depoimento aparentado com a definição que Oiticica dava a seus penetráveis: espaços em forma de labirinto no qual o espectador vive experiências não apenas visuais, mas sensoriais referentes ao tato, olfato, audição e paladar. PA 

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