Geladeiras de 196 maternidades de todo o País guardam um alimento precioso para a nutrição humana. A fórmula é simples e gratuita: o leite materno. Graças ao equilíbrio de nutrientes e à capacidade de transmitir anticorpos da mãe para o filho, tem propriedades essenciais à vida, sobretudo para pequenos prematuros e enfermos. Como nem todo bebê tem condições de receber esse alimento da própria mãe, criaram-se os bancos de leite humano, que ajudam a reduzir os índices de mortalidade infantil.

No Brasil, as mulheres que procuram esse serviço dispõem de uma vasta rede, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como a maior do mundo. Desde 2001, a experiência brasileira foi replicada em 22 países, entre eles Venezuela, Argentina, Portugal e Espanha. A iniciativa, hoje, está presente em todos os Estados. Em meio a tantos recordes negativos em saúde pública que o brasileiro tem a lamentar, esse é um motivo de orgulho.

O banco de leite do Instituto Fernandes Figueira (IFF), no Rio de Janeiro, da Fundação Oswaldo Cruz, é o centro de referência no Brasil. No ano passado, recebeu a visita da primeira-dama francesa, Carla Bruni. Os médicos da instituição são pioneiros no desenvolvimento de tecnologias nacionais, baratas e eficientes. Mas, apesar do tamanho da rede, os bancos ainda não suprem a necessidade do País. "Atendemos a cerca de 65% da demanda", reconhece João Aprígio, coordenador da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano.

Por isso, a prioridade é para crianças prematuras e internadas em Unidades de Terapia Intensiva. Rafael Gustavo, que nasceu em 2 de outubro no IFF com má-formação da coluna cervical, é um deles. O menino mama no peito, mas ainda precisa do auxílio do banco de leite. A mãe, Liliane Ribeiro Rocha, 21 anos, mora na Baixada Fluminense e não consegue estar a seu lado todos os dias. "Não vejo a hora de ir para casa com ele nos braços", diz a jovem. Ela se sente tão grata que pretende se tornar doadora.

foto: Orestes Locatel/ag. istoé

Muitas mães ainda desconhecem a iniciativa brasileira. Outras não se tornam doadoras por medo de que falte leite ao próprio filho. A doação, no entanto, é feita do que sobra no seio após a mamada. E toda mulher que pode amamentar, tem condições de doar. "Quanto mais se tira o leite materno, mais se estimula a produção", desmistifica a presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria do Rio de Janeiro, Fátima Coutinho.

foto: Orestes Locatel/ag. istoé GELADEIRA CHEIA A rede que fornece leite materno está presente em todos os Estados

 

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Prova disso é a saúde de Gabriel, que com apenas cinco meses já pesa 9,3 kg e mede 72 cm. Ele nunca adoeceu, se alimenta apenas de leite materno desde que nasceu e a mãe faz doações semanais. "Não tinha coragem de jogar meu leite fora. Hoje, indico o serviço para todos", conta a engenheira química carioca Christiane Rodrigues Lacerda, 31 anos.

foto: Orestes Locatel/ag. istoé
SAÚDE Internado, Rafael precisa complementar a alimentação

Não se trata de reunir várias amas de leite, como antigamente. As instituições funcionam como casas de apoio à amamentação, com suporte médico e psicológico. Em Mato Grosso do Sul, a rede identificou que as deficientes auditivas não participavam da mobilização. Criou-se então uma cartilha e um DVD com 99 novos sinais. Entre a população indígena, também foram feitas ações de incentivo. "A finalidade é achar as melhores formas para que o bebê seja bem nutrido", destaca Neide Maria da Silva Cruz, nutricionista e consultora técnica do setor de saúde da criança e aleitamento materno do governo estadual.

Segundo João Aprígio, é preciso chegar a mais casas para buscar o leite das doadoras, sobretudo no Nordeste e na Região Amazônica. Hoje, cada rede estadual de bancos tenta diminuir essa distância com parcerias. A técnica de enfermagem e cabo do Corpo de Bombeiros do Rio Ana Nicolique, responsável por recolher as doações e orientar as mães, mostra-se feliz por participar desse esforço. "É emocionante dividir o momento da amamentação", diz ela.


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