Referência O CCBB recebeu 1,1 milhão de pessoas no primeiro semestre

O imponente edifício de quase 130 anos, localizado na rua Primeiro de Março 66, é uma referência no centro do Rio de Janeiro. E não só por sua arquitetura neoclássica, mas principalmente pelo constante entra e sai de visitantes. Gente de todas as idades em busca de cultura: filmes, shows, exposições, peças de teatro – quando não de graça, a um preço acessível. Ali funciona o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Desde 1989, quando foi criado, o polo multicultural é um dos xodós do carioca: só entre janeiro e junho deste ano, recebeu público de quase 1,1 milhão de pessoas. Ele funciona como uma espécie de shopping cultural, na opinião do professor Gilberto Gouma, da Universidade Federal Fluminense (UFF): "Uma visita ao local proporciona uma imersão intensiva em várias expressões artísticas". Foi por conta do sucesso da primeira experiência que o banco criou centros semelhantes em Brasília e São Paulo, e agora se prepara para inaugurar sua maior sede em Belo Horizonte.

Além de revolucionar os hábitos do público, o CCBB completa 20 anos como modelo de gestão cultural. "Foi um marco histórico que inspirou projetos análogos", acrescenta Gouma, referindo-se ao Itaú Cultural (1995), à Caixa Cultural (2004), ao Oi Futuro (2005), entre outros espaços institucionais espalhados pelo País.
Ao concentrar seus investimentos em cultura no CCBB, o Banco do Brasil (BB) tornou contínuo um incentivo até então pontual – estimulando a organização da classe artística, que passou a se programar mais. "Os bons projetos culturais, os mais estratégicos, só se concretizam se houver horizonte para quem produz", afirma Dan Conrado, diretor de marketing e comunicação do BB. Até 2004, quando o banco passou a fazer uso regular da Lei Rouanet (legislação federal de incentivo à cultura), todo o dinheiro despejado no CCBB era desembolsado pela própria instituição financeira (e não voltava mais). Hoje, só 30% dos R$ 41 milhões destinados às sedes do Rio, de São Paulo e Brasília vêm dos cofres do banco.

Fonte constante e segura de recursos, o CCBB virou, por isso mesmo, objeto do desejo de produtores culturais. A seleção da programação é majoritariamente pública: 70% do orçamento é investido em propostas inscritas no site do centro cultural. No ano passado, foram 4.745 inscrições, mas pela peneira só passaram 110.
Os demais 30% dos recursos ficam com as "prospecções", como são chamados os projetos institucionais. É o caso da mostra de filmes do diretor alemão Rainer Werner Fassbinder, que inclui a série "Berlin Alexanderplatz" (cuja duração ultrapassa 15 horas) e faz parte da programação comemorativa. Outra atração é a exposição "Linha de Sombra", com mais de 50 obras, muitas inéditas no Brasil, da artista plástica Regina Silveira. "Irruption", uma instalação de 36 metros que ocupa a rotunda do prédio, foi especialmente reformulada.

Inspirado no Centro Georges Pompidou, em Paris, o CCBB ocupa o prédio que um dia foi a sede do banco. Com a transferência da capital federal do Rio para Brasília, em 1960, a diretoria do BB também se mudou, deixando praticamente ociosa a construção, posteriormente tombada. "Inicialmente, pensava-se em instalar no local um espaço para preservar o acervo do banco: museu numismático, arquivo histórico e a biblioteca", conta Conrado.

A mudança deu resultado. Diretor da primeira peça encenada no espaço ("Judas em Sábado de Aleluia", em 1989), o ator Sérgio Britto voltou àquele palco nove vezes desde 2001. "Os centros culturais, em especial o CCBB, são fundamentais para o que resta de teatro no Rio de Janeiro", disse. "Além de financiarem o espetáculo, garantem um lugar para a montagem, a gente não precisa correr atrás de palco."

As apresentações no CCBB costumam ficar lotadas. "É assim desde o início. Lembro que meus pais precisavam ficar na fila para me ver dançar", afirma a bailarina Ana Botafogo, que em 1991 estrelou o espetáculo "Concertos Coreográficos". E completa: "Só enche se é bom." Trata-se de uma afirmação discutível, mas que faz todo sentido em relação aos 20 anos de sucesso do CCBB.