O refluxo gastroesofágico atinge entre 20% e 30% da população, de bebês a idosos. Curioso é que seus sintomas são tão variados – como tosse persistente, pigarro ou rouquidão – que muitas vezes são confundidos com sinais de outras enfermidades. Os portadores habitualmente sentem azia e podem acordar engasgados no meio da noite, apresentar dor no peito, roncar, ter agravamento das sinusites, rinites e pneumonia. Essas advertências dão uma mensagem clara: o pequeno músculo que separa o esôfago e o estômago, o esfincter, está defeituoso. Ele deixa de fechar com a pressão necessária para impedir que o conteúdo gástrico do estômago reflua ao esôfago e para as vias aéreas.

A primeira recomendação dos médicos para bloquear o transtorno é fazer adaptações na alimentação, tomar remédios e, por fim, submeter-se a uma cirurgia para ajudar no fechamento do esfincter. "Ela é pouco invasiva, feita por laparoscopia, realizada com pequenos cortes no abdome para introdução de pinças e de uma lente óptica acoplada a uma câmera", explica o médico Eduardo Berger, responsável pelo serviço de Clínica e Cirurgia Gastroenterológica do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo. O procedimento é indicado para os casos mais graves e aos pacientes que não se adaptam ao tratamento clínico.

O avanço mais recente nessa área é uma nova técnica cirúrgica ainda não aprovada nos Estados Unidos. Pesquisadores europeus desenvolveram uma cirurgia por endoscopia (consiste na introdução, pela boca, de um instrumento flexível de pequeno diâmetro para acessar o esôfago, o estômago e duodeno, a parte final do intestino), sem cortes e menos agressiva. A pedido da empresa que fabrica o aparelho, o método está sob análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, responsável pela liberação de medicamentos e equipamentos no Brasil. "Essa cirurgia é muito promissora", avalia o gastroenterologista e cirurgião do aparelho digestivo José Luis Capalbo, do Hospital 9 de Julho, em São Paulo. A instituição está interessada em adotar o procedimento assim que for aprovado no País.

Mais técnicas para controlar o refluxo estão em estudo. Pesquisas com animais divulgadas na última semana por cientistas do First Hospital da Universidade de Pequim, na China, mostraram que a eletroacupuntura (feita com agulhas acopladas a eletrodos para que uma corrente elétrica potencialize os efeitos da aplicação), foi eficaz na redução dos episódios de refluxo. A técnica estimularia áreas do cérebro que participam do controle da musculatura.

A medicina suspeita que o dano ao músculo do esôfago tenha origem genética ou seja causado pela obesidade – o acúmulo de gordura no abdome reduz o espaço entre os órgãos, pressiona o esôfago e facilita o retorno do conteúdo gástrico. Mas os especialistas têm certeza de que quem enfrenta o problema com antiácidos tomados esporadicamente aumenta o risco de mal-estar. "A agressão constante à mucosa do esôfago causa irritação e agrava os sintomas. Pode levar a mudanças nas células e até ao câncer se evoluir sem controle", afirma Capalbo.

Boa parte dos pacientes controla os sintomas com dieta e medicamentos. Enquadra- se nessa categoria o empresário Vanderlei da Cruz, de São Paulo. Diagnosticado em 1976, ele se privou de molhos, churrascos, cerveja e outras delícias até 2000, quando foi operado. "Cansei de tomar remédios e de não poder comer. Agora posso tudo", conta. A filha Michele, 24 anos, e o filho Diogo, 22, se submeteram à mesma cirurgia. Já a instrumentadora cirúrgica Maria Luiza França decidiu que queria ser operada sem tentar os remédios. "Gosto de sair para jantar. Por isso, meu principal sintoma era o refluxo durante o sono. Subi a cabeceira da cama 15 centímetros, mas adiantou pouco. Resolvi fazer a operação", conta. "O pós-operatório é dolorido e a alimentação nos primeiros 30 dias é especial, sem pedaços grandes, mas vale a pena", afirma.

Remédios sob suspeita
O FDA, a agência americana que regula remédios, divulgará em novembro os resultados das análises de diversos estudos sobre a segurança cardiovascular dos medicamentos Nexium (esomeprazol) e Losec (omeprazol), indicados contra o refluxo, quando usados por muito tempo. Discute-se se há risco de as drogas aumentarem a chance de ataque cardíaco e morte súbita. A conclusão preliminar das agências americana e canadense é que os dados não sugerem riscos elevados de problemas cardíacos. "De toda forma, é recomendado que o uso destes remédios não exceda oito semanas seguidas", diz o médico Eduardo Berger, do Hospital Edmundo Vasconcelos.