O Brasil está em alerta contra a rubéola, doença causada por vírus que pode ter graves conseqüências se acometer gestantes – há risco de as crianças nascerem com problemas que vão da surdez à má-formação. Do início do ano até a metade do mês passado, foram notificados 3.417 casos. Em São Paulo, dezenas de crianças estão com catapora, também provocada por vírus. Contra as duas doenças, há vacinas. Assim como há imunizante contra a gripe, embora muita gente vacinada acabe atingida pelo Influenza, o vírus causador da enfermidade. A ocorrência de casos como esses levanta dúvidas sobre a eficácia das vacinas. Elas falham? A resposta é sim. Seus resultados são influenciados por fatores que vão desde a escolha da vacina mais adequada por idade, passando pela conservação, até as características de quem recebe o imunizante, como a raça.

Normalmente, o sistema imunológico da população vacinada desenvolve defesas suficientes. “Porém poucas pessoas não criam essa proteção. Não se sabe ainda por que”, explica o pediatra Gabriel Oselka, assessor do Programa de Imunizações do Ministério da Saúde. Há um terceiro grupo que obtém imunidade parcial, o que dá proteção menor, fato ainda não explicado pela medicina. Foi o que aconteceu com a garota Helena Gullo da Silva, dez anos, de São Paulo. Recentemente, mesmo vacinada, ela teve catapora, enquanto a irmã, Clara, oito anos, não. Mas manifestou uma forma branda da doença, como em geral ocorre quando o indivíduo foi vacinado. Afinal, ela criou barreiras, ainda que mais fracas. “Hoje a recomendação é dar uma segunda dose da vacina de catapora para reforçar a defesa”, afirma Eitan Berezin, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Há outros problemas. Com o tempo, alguns anticorpos podem enfraquecer porque há vacinas que não estimulam uma proteção de longa duração. É o caso do imunizante contra pneumococos (bactérias causadoras de pneumonia), indicado para adultos cardíacos e portadores de doenças respiratórias crônicas. Ela deve ser repetida a cada cinco anos. Já o tipo usado em crianças menores de cinco anos, a 7-Valente, pode dar proteção vitalícia. No caso dessa vacina, há também um benéfico efeito cascata. Um estudo do Centro de Controle de Doenças, nos Estados Unidos, revelou que a vacinação de crianças com menos de cinco anos contra doenças pneumocócicas reduziu em até 82% a transmissão dessas enfermidades nos adultos. O ponto falho do imunizante, porém, é que há muitos outros pneumococos circulando por aí, embora mais raros, que eventualmente podem causar infecções.

No caso da gripe, o nível de proteção também varia. A coordenadora de comunicação Mariana Ramos, 24 anos, por exemplo, se imuniza há três anos, mas sempre tem sintomas. Nesse caso, o vírus tem parte da culpa. A vacina é feita com amostras do Influenza que circulou no ano anterior. O problema é que ele sofre mutações de um ano para outro que não estão contempladas no imunizante. “Mas isso não invalida a vacina. Algumas partes do vírus continuam as mesmas”, explica a infectologista Luiza Helena Falleiros, da Faculdade de Medicina de Santos. E há diferenças de eficácia por faixa etária. “A vacina oferece 80% de proteção para adultos jovens. Nos idosos, esse índice varia entre 60% e 70%”, explica Eduardo Forléo, do Vigiun, grupo de pesquisa com novos medicamentos.

A quantidade de pessoas vacinadas também contribui para o risco de falhas. “Com o tempo, o grupo que não criou proteção suficiente com a vacina de rubéola, por exemplo, se soma aos não vacinados. Essa população susceptível em algum momento terá contato com o vírus, poderá se contaminar e desenvolver a doença”, diz Luiza. Outra dúvida é se a eficácia varia conforme o modo de produção do imunizante (se é feito com vírus ou bactéria inativos ou com proteínas extraídas dos microorganismos, as chamadas vacinas acelulares). Segundo os especialistas, isto não faz diferença em termos de resultado. Porém as acelulares dão menos efeitos colaterais.