A fábrica da Volkswagen instalada há 42 anos na rodovia Anchieta, em São Bernardo do Campo, região do ABC paulista, vai estremecer na madrugada da segunda-feira 12. Nesse dia, atendendo à convocação decidida em assembléia, milhares de trabalhadores da montadora – de um total de 16 mil funcionários que se revezam ali diariamente em três turnos de oito horas – estarão em frente à porta da fábrica, a partir das cinco da manhã, para decidir se iniciam uma greve em protesto contra a intenção da montadora de demitir três mil metalúrgicos, anunciada na semana passada.

A decisão da montadora de partir para as demissões foi tomada depois de os funcionários da empresa recusarem a proposta de redução da jornada de trabalho e de salários em 15%. "A Volks diz que quer diminuir os salários para dar garantia de emprego, mas é mentira. Eles querem também ter o direito de demitir mil funcionários por ano e contratar novos empregados pagando menos. É inaceitável", diz o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo. Em nota divulgada na quinta-feira 8, a montadora informou que poderá voltar atrás, caso os metalúrgicos aceitem a "flexibilização", como prefere chamar a proposta. Na unidade de Taubaté (SP), sete mil metalúrgicos preferiram aceitar a proposta, sob condição de garantia de mil empregos por dois anos.

O embate entre metalúrgicos e a direção da empresa deverá esquentar nos próximos dias na unidade da Anchieta, que enfrenta uma situação particular. Situada no coração do movimento sindical brasileiro, a unidade paga salários maiores até que os de outras unidades da Volks. Os metalúrgicos de São Bernardo recebem em média R$ 1,6 mil, enquanto os da unidade de São José dos Pinhais (PR) têm salário médio de R$ 730.

O presidente da Volks do Brasil, Herbert Demel, afirma que a proposta feita é a única saída para evitar demissões e fazer a unidade de São Bernardo voltar a ser competitiva. O projeto da montadora é investir nos próximos meses R$ 2 bilhões em novos equipamentos para a modernização da unidade e a renovação da linha de veículos produzidos. Segundo Demel, a Volks utiliza atualmente apenas 65% da sua capacidade instalada e a conjuntura ruim deixaria a empresa sem outras alternativas.

O fato é que o mercado interno trabalha contra a mobilização dos metalúrgicos e dificulta a paralisação da produção – o estoque da montadora representa hoje um mês de produção. Por isso, os metalúrgicos poderão partir para uma mobilização ao estilo japonês – continuariam trabalhando, mas usariam faixas pretas nos braços como forma de protesto. É um sinal claro de que a maré não anda nada boa para reivindicações.