Na terça-feira 23 de outubro, às duas horas da manhã, 1.112 jovens se acotovelavam nos salões do club e restaurante Piranha, em São Paulo. Não era casamento, festa de famoso ou qualquer ocasião especial. Desde que inaugurou, há três meses, o Piranha tem as noites de terça-feira tão cheias a ponto de superarem o movimento do final de semana. O club é o reflexo das transformações pelas quais vêm passando a vida noturna paulista e carioca. No eixo Rio–São Paulo, as noitadas durante a semana ganham cada vez mais adeptos e espaços. Clubs fechados, grandes discotecas e novos restaurantes dançantes transformaram todo dia em dia de festa.

Para se ter uma idéia do fenômeno, o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo registrou, nos últimos dois anos, um acréscimo de 25% de estabelecimentos funcionando de domingo a quinta-feira. Além disso, cresceu em 50% o número de restaurantes dançantes na capital paulista. “Os empresários da noite começaram a perceber que os clientes não querem apenas dançar, ou jantar, mas fazer as duas coisas em um só programa”, explica o diretor do departamento jurídico do sindicato, José Francisco Vidotto. A modelo Patrícia de Jesus, 23 anos, é o exemplo perfeito desse público. Fã de hip hop e black music – a trilha que embala as terças-feiras no Piranha –, ela só deixou de ir lá duas vezes desde que a casa foi aberta. “Eu tinha um trabalho importante fora da cidade. Caso contrário, não faltaria ao meu programa favorito. Janto, danço e ainda encontro amigos”, resume a modelo.

A rotina de Patrícia, sem dúvida, facilita sua paixão pela vida noturna semanal. “Trabalho muito, mas às quartas-feiras não costumo acordar antes do meio-dia”, explica. A maioria dos habitués das baladas durante a semana, entretanto, leva uma vida de rotina padrão. Acorda cedo para trabalhar, mas nem por isso deixa de sair à noite. Para o produtor Primo Preto, ex-vj da MTV que comanda as noites de hip hop do Piranha, é justamente o cotidiano do trabalho que pauta o interesse do público pelas gandaias em dia útil ou pelas batidas noites de sexta e sábado. “Quem sai de casa para dançar em plena terça-feira o faz porque gosta. E não porque estava em casa de bobeira e pode dormir até mais tarde no dia seguinte”, compara Primo Preto.

Plantão – Frequentador assíduo das noites de quarta-feira do club paulistano Hole, o estudante de medicina Eduardo Urbano, 23 anos, é um desses novos notívagos. Ele cursa o quinto ano de medicina e acorda às seis da manhã pelo menos duas vezes por semana, para fazer plantão no Hospital da Santa Casa de São Paulo. Mas, nem por isso desistiu de seu maior hobby: dançar ao som de drum’n’bass. “Adoro dançar e amo a medicina. Enquanto puder, vou conciliar as duas coisas”, avisa Urbano.

Bem menor e mais discreto que o Piranha, o Hole é uma espécie de “inferninho aconchegante” em plena rua Augusta. Às quartas-feiras, a pista de dança da casa fica sob o comando da trupe do Nação Quebrada. O grupo, ainda pouco conhecido entre os baladeiros de plantão, é um dos preferidos de Urbano e dos ditos “fãs descolados” do drum’n’bass. Isso porque enquanto dois DJs se revezam nas pickups, outros dois vocais, os chamados live P.A. fazem performances ao vivo. Segundo os frequentadores do Hole, a grande vantagem do club é justamente poder dançar sob um som de qualidade, sem pagar caro pelo serviço nem se amontoar com clientes estranhos. Ali, todo mundo é amigo ou se conhece.

Maldita – Apesar de os paulistanos afirmarem que a vida noturna de São Paulo é hour concours, a noite do Rio de Janeiro tem se modernizado tanto que oferece opções muito parecidas com as da capital paulista. O mesmo charme intimista da Hole, por exemplo, marca as noites de segunda-feira na carioca Casa da Matriz. O público é o mesmo, o chamado “alternativo”. A estudante carioca Fernanda Passarelli, 23 anos, entretanto, prefere se classificar como indie (gíria que, segundo ela, é usada para identificar aqueles que se consideram independentes dos modismos). A jovem, como todos que batem ponto às segundas-feiras na Casa da Matriz, detesta passar a noite ouvindo as músicas que tocam exaustivamente nas rádios. Prefere o som eclético das pickups de Zé e Gordinho, os DJs das segundas da Matriz. Não por acaso, a noite ganhou o nome “A maldita” e o slogan “Comece a semana se acabando”.

Fernanda é do tipo que curte não apenas começar mas terminar a semana se acabando. Sai quase todos os dias, mas ainda assim segue mais o estilo “cabeça”. Toca piano e violão, estudou ópera, está cursando o último período de comunicação e ainda estuda psicologia. “Gosto de sair à noite para encontrar os amigos, conversar, ouvir música de qualidade e dançar. Tudo calmo, sem stress. Se for pra perder minhas horas de sono frequentando boates superlotadas, prefiro ficar em casa”, brada.

Água fria – O restaurante e discoteca Cozumel, na zona sul do Rio, por exemplo, não faz parte do circuito de Fernanda. Mas, enquanto ela e os amigos preferem se esbaldar na “Maldita”, outras 700 pessoas escolhem o lugar como melhor programa para a segunda-feira carioca (leia quadro com as dicas das baladas da semana). Por ali, o clima de azaração ostensiva regada a comida mexicana e frozen marguerita funciona como chamariz para o público. A secretária Carla Leite, 25 anos, que o diga. Mora em Padre Miguel, na zona norte do Rio, e entra no trabalho às oito da manhã, no centro da cidade, mas mesmo assim não perde uma segunda-feira no Cozumel. “Às vezes passo semanas dormindo apenas duas horas por noite. Fico cansada, mas jogo uma água fria no rosto e saio linda de novo”, comenta Carla. Com tanta empolgação é inevitável pensar que o calendário semanal já deixou os embalos de sábado à noite no chinelo.

As baladas em São Paulo
Domingo

Samba Rock no Grazie a Dio!
Quem chega ao Grazie a Dio! para saborear um prato da cozinha mediterrânea do restaurante não imagina a ferveção que começa assim que o jantar acaba. Aos domingos, a partir das 21h, uma banda ao vivo faz até 200 pessoas dançarem ao som de um samba rock contagiante. A noitada completa começa com peixes, carnes ou massas e termina na ferveção da pista de dança.

End: rua Girassol, 67 – Vila Madalena
Tel: 3031-6568 e 3813-9196 Preço: a partir das 20h, couvert artístico de R$ 7

Segunda-feira
Jam Sessions no Urbano
Durante o dia, o Espaço Urbano funciona como salão do cabeleireiro Mauro Freire. À noite, dois bares, uma pista de dança e um lounge transformam o ambiente em um dos redutos preferidos dos jovens paulistanos. Às segundas-feiras, dias mais fortes da casa, cerca de 500 pessoas se revezam até as 4 horas da manhã ao som das jam sessions lideradas pelo trombonista Bocato.

End: rua Cardeal Arco Verde, 614 – Pinheiros
Tel: (11) 30851001 Preço: couvert R$ 10 (mulheres) e R$ 20 (homens)

Terça-feira
Black Music no Piranha
Misto de bar, discoteca e restaurante, o Piranha tem três mil metros quadrados e vive lotado a semana toda. As noites de terça, regadas por muito hip hop e black music, chegam a computar 1.200 pagantes. O programa completo inclui jantar no restaurante da casa, drinque nos mezaninos ao ar livre e azaração na pista de dança até o sol raiar. A diversão é garantida, mas o barato sai caro.

End: rua Turiassu, 928 – Perdizes
Tel: 3873-0744 Preço: entrada R$ 25 (mulheres) e R$ 30 (homens)

Quinta-feira
DJ Marky na Lov.e
No club Lov.e a balada não tem hora para acabar. As quintas-feiras são a pérola da casa. Sob as pickups do paulistano DJ Marky, considerado o melhor do mundo no drum’n’ bass, começam por volta da meia-noite e nunca terminam antes das 5h. O publico só costuma voltar pra casa depois do café da manhã de cortesia. Afinal, só um copinho d’água custa R$ 4.

End: rua Pequetita, 189 – Vila Olimpia
Tel: 3044 1613 Preço: R$ 20 (mulheres) e R$ 25 (homens)

As nigths do Rio
Segunda-Feira
“A Maldita” na Casa da Matriz
Sobradinho discreto em Botafogo, a Casa da Matriz funciona de segunda a sábado e, em seus três anos de existência, já foi visitada por mais de sete mil pessoas. Às segundas, a casa oferece a festa “A maldita”, com o slogan “comece a semana se acabando”. O evento não lota, mas conta sempre com uma profusão de jovens notívagos descolados
End: rua Henrique de Novais, 107, Botafogo
Tel: 2266-1014/ 2539-9295 Preço: R$ 10
Segunda-Feira
“Loucura Total” no Cozumel
Batizada de “Loucura total”, a festa que marca o início da semana no club e restaurante mexicano Cozumel é tão requintada que virou a preferida dos mauricinhos e patricinhas da zona sul carioca. A noite começa no restaurante da casa, com cardápio mexicano, e termina na pista de dança comandada pelo DJ Rafael Barreto.
End: avenida Lineu de Paula Machado, 696, Jardim Botânico Tel: 3874 0018 Preço: consumação: R$ 15 (mulheres) e R$ 20 (homens)
Terça-feira
AfroRio no Teatro da Lagoa
A AfroRio tem chacoalhado o pacato Teatro da Lagoa nas noites de terça-feira. As jam sessions de hip hop, black, funk e soul music levam em média 700 pessoas ao local. O estilo, denominado “afro-brasileiro-mundial” pelos criadores do evento, formou fãs de carteirinha, inclusive entre os famosos.
End: av. Borges de Medeiros, 1.426 – Lagoa
Tels: (2219-3102 / 2274-7999
Preço: R$ 20 (mulheres) e R$ 30 (homens)
Quintas e Domingos
Forró Brasil no Ballroom
O Ballroom é uma das casas de show mais agitadas do Rio. De dia, é um restaurante de comida por quilo e à noite vai do jazz ao pagode. Os dias mais quentes são às quintas-feiras e domingos, quando quase mil pessoas arrastam pé ao som do Forró Brasil. A balada vai até as quatro da manhã.
End: rua Humaitá, 110, Humaitá
Tel: 2537-7600 Preço: domingo R$ 6 (mulheres) e R$ 10 (homens) quinta R$ 8 (mulheres) R$ 10 (homens)