Há anos vou a Brasília com alguma regularidade. Na capital, converso com ministros, assessores palacianos e líderes do Congresso. Este ano, porém, fui à Brasília uma única vez, na segunda-feira 24, e fiquei surpreso com o que tive a oportunidade de observar.

Até o ano passado, sempre retornei dessas viagens com a sensação de estar deixando para trás uma espécie de realidade virtual. Em geral, as conversas com ministros, assessores e veteranos parlamentares pareciam retratar um outro País. Nos mais diversos gabinetes eram expostos inúmeros projetos, investimentos de toda natureza e um oceano de dados estatísticos apontando para um Brasil admirável. Uma política de educação cada vez mais qualificada, capaz de fazer nossos alunos conquistarem lugares de destaque em cursos no Exterior. Na saúde, conseguiam apresentar um País caminhando a passos largos para a inclusão geral no sistema de atendimento, com tecnologia de ponta a serviço de todos. Era assim em qualquer área do governo. Na sala de embarque do Aeroporto Juscelino Kubitschek, enquanto aguardava o voo para retornar, invariavelmente refletia sobre o abismo que separava os gabinetes da Esplanada dos Ministérios das verdades de um Brasil real; um País onde parte da infância está longe da escola e não raramente pessoas morrem nas portas e corredores dos hospitais públicos. Mas tudo isso é passado. Como disse acima, na segunda-feira 24 deixei Brasília com uma outra sensação.

Depois de tomar café em diversos gabinetes, constatei que muitos ministros e líderes do Congresso não fazem a menor questão de esconder a desilusão com o governo e com a presidente Dilma Rousseff. Pelo contrário, guardadas as devidas proporções, muitos, sob a condição do anonimato, criticam a presidente assim como um fanático torcedor se posta diante de um artilheiro que chuta para fora depois de ter driblado o goleiro. Ministros e técnicos que ocupam cargos de confiança não disfarçam a absoluta falta de projetos e de um planejamento, seja a curto, médio ou longo prazos. Na segunda-feira 24, o Brasil visto do lado de dentro das envidraçadas janelas da Esplanada dos Ministérios estava tão parado quanto o Brasil que a cada semana demite milhares de trabalhadores. Estava tão inseguro como os contribuintes das grandes metrópoles e tão desnorteado quanto a nossa seleção diante da Alemanha. Na segunda feira 24, pela primeira vez deixei Brasília com a sensação de que, quando se trata da desesperança, há uma fina sintonia entre o que acontece nas ruas do Brasil real e nos gabinetes ministeriais.

Na segunda-feira 24, ouvi em pelo menos três Ministérios que o ministro não sabe se será ministro daqui a duas semanas. De pelo menos dois líderes do Congresso ouvi reclamações por não saberem se seus interlocutores no Executivo permanecerão ilibados até a próxima etapa da Operação Lava Jato. Deixei Brasília com o sentimento de que, assim como os brasileiros estão à espera de que algo aconteça para chacoalhar a nação, o governo também está à espera de que algo ocorra. Parece ter jogado a toalha. O problema é que o Brasil não vai suportar mais três anos arrastando uma pauta que ofereça sintonia entre líderes e eleitores apenas quando se trata da falta de esperança.