Por pouco não termina em pizza o processo judicial movido contra a Microsoft, acusada de abusar de práticas monopolistas para conquistar o mercado de softwares. Na sexta-feira 2, a empresa e o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) firmaram acordo, pondo fim a uma disputa judicial que se arrasta há três anos e meio e quase levou à divisão da empresa. A festa na Microsoft não durou muito. Na terça-feira 6, nove dos 18 Estados americanos que processavam a companhia de Bill Gates, o homem mais rico do mundo, decidiram não aderir ao pacto de baixar armas e forçar punições mais severas. Diante do impasse, a juíza Collen Kollar-Kotelly, responsável pelo caso, resolveu empurrar a contenda para 2002, quando decidirá se o processo segue ou não adiante.

Pelo acordo preliminar fechado entre o DOJ e a Microsoft, a empresa ficaria proibida de retaliar as companhias que utilizam produtos dos concorrentes nos PCs que fabricam. O usuário teria mais chances de comprar computadores equipados com outros sistemas e títulos rivais da Microsoft, como o navegador para internet Netscape Navigator. Além disso, a empresa de Gates seria obrigada a revelar parte dos códigos secretos de seu sistema operacional para que outras companhias possam desenvolver produtos compatíveis com o Windows. O acordo não colocava nenhuma restrição ao hábito da empresa de inserir os programas que deseja no Windows, presente em nove entre dez computadores do planeta. Foi essa liberdade que originou o processo judicial. A Microsoft “colou” o navegador Internet Explorer ao sistema operacional, destruindo a liderança da Netscape.

A principal vantagem do recém-lançado Windows XP –, que deve torrar US$ 250 milhões em propaganda – é sua integração com uma miríade de programas com múltiplas utilidades, como trocar mensagens, assistir a vídeos e gravar CDs. Ao incluir várias ferramentas no sistema operacional, a Microsoft elimina pela raiz a possibilidade dos concorrentes de vender seus produtos. Para quem apenas usa o computador, é cômodo ligar o PC e encontrar os programas funcionando no sistema. O que o mercado de informática considera concorrência desleal, a Microsoft chama de estratégia para “facilitar a vida do usuário”. Ao atrelar o programa Media Player ao Windows para assistir a DVD e vídeos pela internet, ela forçou a União Européia a abrir uma investigação que pode resultar numa salgada multa de US$ 2,5 bilhões.

A novidade do Windows XP é que diminuíram as panes frequentes das versões anteriores. A apresentação gráfica mais leve e interativa contrapõe-se à exigência de computadores mais potentes para rodar o novo sistema. Uma das desvantagens é o polêmico sistema antipirataria. Para ativá-lo é preciso antes pedir um código à Microsoft, por telefone ou internet. O sistema impede a instalação do Windows XP em mais de um computador e exige uma nova ativação sempre que forem substituídos componentes internos, como o disco rígido e as placas, ou aumentar a memória. Há também o “convite” insistente para aderir a produtos e serviços como o sistema de identificação digital Passport (da Microsoft, é claro). A mesma senha do Passport serve para acessar a caixa postal, fazer compras online e consultar serviços da empresa, como sites de leilão ou calendário. Mal o produto estreou nas prateleiras, um hacker alardeou ter criado um programa para roubar senhas e números de cartão de crédito dos usuários – mais uma dor de cabeça para Bill Gates.

Colaborou Luiz Chagas

Console novo

Enquanto a Justiça decide o destino da Microsoft, ela vai aumentando os tentáculos. Na quinta-feira 15, Bill Gates lança nos EUA o console de videogame XBox, máquina em forma de caixa com processador de 733 MHz, disco rígido de 8 GB e conexão de alta velocidade à internet. É a tentativa da empresa de abocanhar um mercado mundial que movimenta US$ 17 bilhões anuais, US$ 7 bilhões só nos EUA. Gráficos realistas que mostram até reflexos do sol na lataria dos carros de corrida e a possibilidade de enfrentar adversários via internet prometem atrair crianças dos oito aos 80 anos. Projetado para ser o centro da sala dos consumidores, o console também servirá como tocador de CDs e de filmes em DVD. No Brasil, o aparelho só chega em 2002 a um preço ainda não definido. Nos EUA, custará US$ 300.

 

Coincidência?

Co-fundador da Microsoft, Paul Allen, ergueu em homenagem ao guitarrista Jimi Hendrix o museu Experience Music Project, em Seattle. A pronúncia em inglês do Windows XP remete à palavra experience, nome da banda do músico. No livro Profecia rock – sexo e Jimi Hendrix (…) a conexão com a Microsoft, Michael Fairchild, da gravadora Experience Hendrix, diz que “tudo estaria intimamente ligado”. A Microsoft não admite a jogada de marketing. Por via das dúvidas, toca Madonna nos clipes promocionais.