O apelido de Mão Santa teria sido ganho por causa dos “milagres” que o médico Francisco de Assis de Moraes Souza (PMDB-PI) teria feito em seus pacientes. Transformado em nome de guerra, a alcunha levou o médico a eleger-se governador do Piauí, em 1994, e reeleger-se, em 1998. Agora, o feitiço virou contra o feiticeiro. Na última campanha, Mão Santa divulgou à exaustão, na tevê, programas e projetos de governo como “Luz Santa”, “Sopa na Mão” e “Spa Santo”. Era uma forma de burlar a proibição de personalização da propaganda dos governos. Denunciado por crime eleitoral pelo senador Hugo Napoleão (PFL-PI), que ficou em segundo lugar na eleição, o governador acabou cassado, nesta terça-feira 6, pelo Tribunal Superior Eleitoral.

A votação, comandada pelo presidente do TSE, ministro Nelson Jobim, ex-deputado do PMDB, foi uma goleada de 7 x 0 a favor da cassação de Mão Santa e do vice-governador Osmar Júnior (PCdoB). Com a decisão, Napoleão deve assumir o cargo, mas antes é preciso recalcular os votos, já que os dados a Mão Santa serão considerados nulos. “É uma reparação moral à minha pessoa”, festejou o senador, líder do PFL no Senado. Ele anunciou que vai demitir todos os detentores de cargos em comissão e fazer uma auditoria nas contas de Mão Santa. Antes disso, a Assembléia Legislativa terá de ser informada da decisão judicial para que seu presidente, Kleber Eulálio (PMDB), assuma o cargo e, em seguida, o transfira para Napoleão. “O ruim nisso tudo é que o Estado fica mais tempo sem governo”, diz o deputado federal Wellington Dias (PT-PI), adversário tanto de Mão Santa quanto de Napoleão.

As irregularidades de Mão Santa já haviam sido denunciadas por ISTOÉ em junho de 1998. Na época, a revista mostrou que ele transformou o governo do Piauí numa “empresa familiar.” Além da mulher, Adalgisa Souza, empregou o filho Francisco, conhecido como “Mão Santinha”, e o irmão Paulo de Tarso. As verbas estaduais eram usadas na campanha. Napoleão denunciou-o por 22 crimes eleitorais, dos quais o TSE acolheu nove. Na quinta-feira 8, Mão Santa voltou ao Piauí. Teve recepção festiva e foi para o Palácio do Karnak, sede do governo, como se nada tivesse acontecido.