De caso pensado e mesmo a contragosto, por contrariar sua natureza, a presidente Dilma lançou-se em uma das mais virulentas ações de corpo a corpo político desde que assumiu o poder. Reuniu-se com ministros, governadores, correligionários, opositores, juízes e até com o “povo” — imagine só! — para buscar alguma base de sustentação. A Dilma tentou deixar de ser Dilma por certos momentos. Voltou ao palanque. Concedeu entrevistas. Participou de inaugurações. Fez aparições públicas diárias para gerar repercussão na mídia. Usou e abusou de palavras de ordem. Fez, enfim, o que lhe aconselhava, há tempos, o mentor e protetor Lula. Em cada uma de suas andanças a tônica foi sempre a mesma: desarmar a mobilização pró-impeachment que cresce dia a dia, por ela batizada de “golpe”. Não faltou claque organizada e regiamente paga como já é de praxe nessas ocasiões. Ao seu estilo autocrata exigiu de ministros um compromisso maior com o seu governo. Cobrou de aliados insatisfeitos o “respeito às urnas”. Travou com juízes do Supremo uma espécie de “interlocução preventiva”, deixando transparecer o temor dos desdobramentos das investigações da Lava Jato. E coroou sua cruzada delegando, estrategicamente, ao presidente do Senado, Renan Calheiros, o papel de negociador preferencial no parlamento. Até bem pouco tempo, Renan era tido como desafeto, um sabotador da gestão Dilma que precisava ser abatido. Mas tal qual o movimento das nuvens, também o jogo político vem mudando ao sabor dos ventos. E ele agora favorece alianças de interesse. Para ficar onde estão, Dilma e Renan precisam um do outro. A presidente sabe que não pode confiar nem uma moeda de centavo nesse acordo, mas sabe também que não há alternativa. Para esfriar os ânimos quer intensificar a agenda de encontros e oportunidades aonde fala de realizações. Convence poucos com esse discurso. A sua enorme impopularidade, difícil de reverter, pesa contra. Dilma mentiu lá atrás em campanha e perdeu por completo a credibilidade para vender otimismo. Seu teste de fogo ocorre agora nas ruas que devem ser tomadas, neste domingo, 16, por protestos em massa. O tom e o volume dessas manifestações, pelo natural poder de influência que exercem sobre o congresso, os tribunais e o mercado – nortearão o futuro da mandatária.