Na última semana, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deu uma guinada no seu comportamento em relação ao governo. Até o domingo anterior, Renan rivalizava com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para ver quem provocava mais dissabores para a presidente Dilma Rousseff no Congresso. De uma hora para outra, o peemedebista foi convertido em tábua de salvação da governabilidade. Nos últimos dias, Renan se despiu, sem cerimônias, do personagem de crítico do Planalto e partiu para a missão de salvamento do governo Dilma. Após acalmar a base aliada no Senado, Renan apresentou um roteiro de 28 temas para atravessar a crise política. A maior parte dos projetos, tirada da cartola por Renan, já tramitava na Casa há pelo menos três anos. Mas a chamada Agenda Brasil ganhou ares institucionais, apesar de ser uma proposta política. A articulação de Renan, que garantiu um fôlego extra a uma presidente que respirava por aparelhos, não se restringiu aos limites geográficos do Senado Federal. Rompeu fronteiras e alcançou o TCU, localizado a 500 metros do gabinete de Renan. Na quarta-feira 12, atendendo a um pedido do Senado, o tribunal adiou por mais 15 dias o exame das contas da presidente Dilma do ano de 2014. Em junho, o TCU numa decisão inédita, já havia concedido 30 dias para o Planalto tentar justificar as chamadas pedaladas fiscais. Rejeitadas as contas de Dilma, estaria aberto o flanco para um possível pedido de impeachment pela oposição. A esperança dos opositores era de que a manifestação do domingo 16 fosse o catalisador de todo o processo. Com o novo prazo do TCU, graças à uma pesada ofensiva que envolveu integrantes do governo, do PMDB e, claro, Renan, o roteiro vislumbrado por setores da oposição caiu por terra.

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O inesperado acordão gerou inquietações no meio político em Brasília. Nem o mais idealista dos parlamentares acredita que Renan tenha feito a inflexão apenas preocupado com o futuro do País. Alguns fatos ocorridos na última semana fornecem pistas para a reviravolta no comportamento do presidente do Senado. Antes de se tornar um defensor da estabilidade do governo Dilma, Renan teve uma reunião reservada com a presidente no Alvorada. No sábado 8, a presidente recebeu o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para uma conversa no Palácio do Planalto. Há duas semanas, Janot foi indicado por Dilma para ser reconduzido ao cargo. Em setembro, o Senado comandado por Renan – o mesmo que ameaçava criar dificuldades para o procurador há um mês – vai decidir se rejeita ou acata a indicação.

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ACORDÃO
O tempo dirá se a foto que reuniu expoentes do PMDB e o presidente Lula marcará
o início de uma reação ou será mais uma política. Acordo foi articulado pelo
presidente do Senado, Renan Calheiros, convertido a salvador da Pátria

Se quiser, Renan transforma o terreno para Janot na Casa em campo minado. Senadores implicados na Lava Jato teriam interessa em reprovar a continuação de seu mandato. O procurador-geral fez inimigos entre os senadores ao autorizar buscas na residência de Fernando Collor (PTB), num processo considerado truculento pelo ex-presidente e por seus pares. Mas Renan fixa os olhos em algo que está nas mãos de Janot: a denúncia apresentada contra ele por ter sido flagrado, ainda em 2007, tendo despesas pessoais pagas por um empreiteiro. O processo contra o presidente do Senado fecha o círculo onde os interesses de Renan, Dilma e Janot se entrelaçam.
No TCU, Renan trabalhou pró-Dilma no corpo-a-corpo com os ministros indicados pelo Senado no tribunal: Raimundo Carreiro, Vital do Rêgo e Bruno Dantas. A corte tem nove integrantes. O tribunal reúne elementos para rejeitar as contas e enquadrar Dilma por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. O relator do processo, Augusto Nardes, disse que foram encontrados a soma de R$ 26 bilhões em decretos de créditos aprovados irregularmente pelo governo Dilma nas contas de 2014. “O valor é impactante”, disse Nardes. Mas , segundo um ministro ouvido por ISTOÉ, “o novo cenário favorece o Planalto”. Numa outra vitória dos articuladores do governo, o STF decidiu na quinta-feira 13 que, se o julgamento das contas de Dilma for parar no Congresso, em caso de rejeição pelo TCU, ele deverá ser apreciado em sessão conjunta da Câmara e Senado. A decisão enfraquece Eduardo Cunha e garante maior margem de manobra para o governo.

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O sucesso do acordão costurado por Renan foi eternizado em uma fotografia que reuniu ele próprio, o ex-presidente José Sarney, os senadores Jader Barbalho (PMDB-PA), Romero Jucá (PMDB-RR), Eunício Oliveira (PMDB-CE), o ministro de Minas e Energia Eduardo Braga, o ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves, o vice Michel Temer e o ex-presidente Lula após café da manhã no Palácio do Jaburu, quarta-feira 12. O histórico recomenda não confiar plenamente no ensaboado PMDB, acostumado a mudar de posição ao sabor dos ventos. As próximas semanas dirão se aquele retrato ficará marcado como o início da recuperação de Dilma ou como mais uma empulhação política com prazo curto de validade.  


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