Festejado e cultuado dentro do PT, o casal Suplicy, sempre tido como bom de voto, inteligente e charmoso, começou a provocar pesadelos na cúpula petista com seus sonhos de alçar vôos mais altos na direção do Planalto. Dono de uma perseverança imbatível quando defende suas idéias e projetos, o senador Eduardo Suplicy bateu o pé. Desta vez, seu objetivo é disputar dentro do PT a indicação para candidato à Presidência da República nas eleições de 2002, mesmo que Luiz Inácio Lula da Silva decida tentar pela quarta vez chegar ao Planalto. Se mantiver sua promessa de exigir a realização de uma prévia presidencial – a primeira nos 20 anos da história do partido –, o senador vai quebrar o maior tabu do PT, ao contestar publicamente a liderança de Lula.

Max Pinto
DEFESA “Se eu não for candidato, meu apoio é para Genoíno”

Essa idéia começou a ser questionada em 1998, mas sempre aos sussurros. Naquele ano, o ato mais ousado foi a sinalização do prefeito eleito de Porto Alegre, Tarso Genro, de que gostaria de assumir o posto de Lula, desde que a estrela maior decidisse não concorrer à Presidência. O ex-governador Cristóvam Buarque também avisou que estaria no páreo se Lula permitisse, discurso que repetiu novamente agora. No ano passado, Suplicy declarou publicamente que gostaria de pleitear a candidatura a presidente, mas dirigentes nacionais o demoveram da idéia de tocar no assunto. O próprio Lula chegou a liberar algumas estrelas para disputar a candidatura, numa reunião com os próprios interessados: além de Tarso e Cristóvam, o presidente nacional do PT, José Dirceu, o deputado federal José Genoíno, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Aloízio Mercadante, e, é claro, Suplicy. O senador não esqueceu as palavras de Lula e cobra a fatura.

Passada a campanha municipal, a panela de pressão explodiu justamente pelas mãos do senador. Agora Suplicy, com o seu jeitão tinhoso, transformou-se em motivo de preocupação. “Defendo a prévia no PT e também a idéia de realizar primárias para se escolher o candidato entre os partidos que estarão aliados conosco na eleição de 2002. Aliás, essa idéia não nasceu comigo. Dirceu e o próprio Lula já haviam falado nisso em 1998”, alfinetou Suplicy. Lula mandou um recado ao senador e aos petistas: prefere Genoíno candidato a presidente, caso não dispute o Planalto de novo. Foi o que bastou para azedar mais as relações com o senador, embalado pelo sucesso da mulher, a prefeita eleita de São Paulo, Marta Suplicy. Ela, inclusive, já sinalizou que deseja representar o partido nas eleições presidenciais de 2006. Há poucos dias, Suplicy procurou Dirceu para avisar que iria exigir as prévias. Diante das notícias de que o senador seria enquadrado pela direção nacional, Marta saiu em defesa do marido e não escondeu a irritação: “As forças políticas se movimentam e ninguém pode pegar um político e dizer: ‘Você fica quietinho aí e pronto!’ Debate político você não controla, não engessa.”

Escolha – O próprio Suplicy cobrou democracia do partido. “Enquadrar como? É mais do que legítimo eu querer ser candidato. Não estou querendo forçar a barra para definir regras. Elas já existem. Para mim será uma honra disputar com Lula dentro do PT”, desabafou. Os dirigentes petistas apressaram-se em desmentir a notícia do enquadramento, e Dirceu reiterou que se Suplicy quiser pleitear a candidatura haverá prévias. Genoíno, que pretende ser candidato a governador de São Paulo em 2002, também defendeu o pleito do senador, mas acha o debate prematuro e sugeriu, como primeira opção, um acordo partidário para se escolher o nome do candidato do PT. “A sucessão presidencial deve passar por Lula. Afinal, ele tem votos e força”, disse Genoíno. O senador provocou uma discussão que estava sendo abafada. O deputado federal Milton Temer (RJ), identificado com as correntes da esquerda do PT, também defendeu as prévias: “Não é nenhuma ofensa a Lula. Não dramatizo a questão, nem acho nenhum absurdo a candidatura de Suplicy. O que não aguento mais é ouvir gente dizendo que tem que ser o Lula e outros dizendo que com o Lula não dá”.