O principal executivo do grupo Santander para a América Latina, Francisco Luzón, desembarca em São Paulo nos próximos dias com a missão de verificar in loco o lance mais audacioso de uma instituição financeira espanhola no exterior: a compra do Banespa por R$ 7 bilhões. Enquanto a ousadia fez do Santander o maior banco estrangeiro na América Latina, o governo brasileiro pôde comemorar a entrada de US$ 3,5 bilhões na forma de investimento direto. O BC chegou a dar uma forcinha extra aos espanhóis, comprando os dólares que eles trouxeram para pagar o Banespa a um preço melhor que o do mercado, como mostrou o jornal Valor. Esses dólares irão aliviar um pouco as contas do País em suas transações com o Exterior, cujo rombo anda hoje pela casa dos US$ 24 bilhões ao ano.

O resultado do leilão do Banespa, entretanto, ainda deve render muita discussão. O próprio valor a ser pago é questionado, já que o Banespa possui créditos tributários que poderão ser usados no pagamento de impostos quando, mais à frente, o banco tiver lucro. Em Madri, executivos do banco disseram que esse valor pode representar uma economia de quase R$ 6 bilhões em um prazo de cinco anos. O número parece exagerado e soa como intenção de acalmar os analistas do mercado, quase unânimes ao considerar o preço pago pelo Santander caro demais. O governo se justifica dizendo que esses créditos já estavam incluídos nos lances dos pretendentes. Ao mesmo tempo, algumas condições para a concretização do negócio, decididas dias antes do leilão, abrem brecha para quem critica o processo como um todo. Na sexta-feira 17, por exemplo, Carlos Eduardo de Freitas, diretor do BC responsável pelo leilão, procurou os bancos interessados. A essa altura, outros quatro candidatos haviam pulado fora e o risco era não haver interessado algum. Na conversa com os bancos, Freitas informou que o BC decidira emitir títulos públicos com prazo de vencimento de 20 anos, como queriam os bancos que ainda estavam na disputa. Esses títulos do governo servirão de lastro para as dívidas do Banespa no fundo de pensão dos seus funcionários.

Os sindicatos dos bancários preparam uma greve já para a terça-feira 28, justamente o primeiro dia em que o controle passará de fato para as mãos dos espanhóis. A intenção dos bancários é pressionar a direção do banco a cumprir os acordos coletivos fechados recentemente, enquanto o Banespa era estatal, e, mais importante, tentar minimizar as demissões. Com 23 mil funcionários, o Banespa está muito distante dos padrões do Santander tanto na Espanha quanto noBrasil. No mercado brasileiro, o banco espanhol trabalha com uma média de nove funcionários por posto de atendimento – no Banespa, essa média é de 17 funcionários. “Em todas as aquisições feitas pelo Santander na América Latina, a política do banco foi de terra arrasada”, diz Vagner Freitas, secretário-geral da Confederação Nacional dos Bancários (CNB). Procurado por ISTOÉ, o Santander preferiu não se manifestar.