O drama dos jovens adotados e depois devolvidos como se fossem mercadorias com defeito de fabricação tem causado comoção nos Estados Unidos e no Brasil. Em meio à polêmica, a consultora de empresas americana Jackie Bracy, que devolveu ao Brasil dois filhos adotivos, tenta agora reencontrar pelo menos um deles: Alex Bracy, hoje com 20 anos, desaparecido desde abril de 1999. Ele foi visto pela última vez saindo de casa, no Rio, em companhia de um comissário de bordo americano identificado como John Kingsmore. Disse que retornaria à Califórnia, mas nunca chegou a seu destino. O rapaz podia voltar, pois não fora deportado, como outros colegas brasileiros levados para os EUA. Alex – batizado com o nome de Alexandre Luiz Diogo – e seu irmão de criação Robert Bracy (antes, Ernani Leite José) eram meninos de rua. Adotados no Rio em 1994, foram festejados no Fantástico, programa da Rede Globo, como se tivessem ganho na loteria. Mas tiveram dificuldades de adaptação nos EUA e foram mandados de volta. Retornaram às ruas. Alex chegou a conseguir trabalho e um quarto para morar. Robert foi preso por roubo, há três anos, e cumpre pena no presídio Edgar Costa, em Niterói. Diz não entender a razão de ter sido rejeitado. Alex foi acusado de prática de assédio sexual. A família exigiu que voltasse para o Brasil, senão seria preso. Hoje, a mãe se arrepende. Ela recebeu um telefonema de Alex em abril do ano passado, quando o jovem lhe pediu desculpas. Disse que gostaria de voltar para a Califórnia e o tal amigo poderia ajudá-lo. A mãe o aceitou e ele era aguardado no dia 1º de maio. “Tenho certeza que ele gostava de mim e me procuraria, caso estivesse aqui”, garante Jackie. Ela tenta saber no serviço de imigração americano se alguém estaria usando os documentos do rapaz nos EUA. Enquanto isso, Robert cumpriu metade da pena de seis anos e poderia ser beneficiado com o regime semi-aberto. Para isso, precisa conseguir um emprego, mas esbarra no estigma de ser presidiário e ex-menino de rua. Na cadeia, conclui o último ano do ensino fundamental e trabalha na biblioteca. “Eu não queria ter voltado. O Alex olhou minha mãe tomando banho no chuveiro, meu pai não gostou e mandou a gente de volta”, disse Robert ao advogado Pedro Pereira, da ONG Fundação São Martinho. A Justiça e a direção do presídio não permitiram que ISTOÉ o entrevistasse. Os dois ex-meninos de rua e outros brasileiros adotados por americanos e devolvidos ao Brasil, como João Herbert, deportado no dia 16, podem, segundo alguns advogados, tentar pleitear na Justiça a cidadania americana – um direito não concedido automaticamente às crianças estrangeiras adotadas. Isso porque, no dia 30 de outubro, o presidente Bill Clinton aprovou lei do deputado democrata Bill Delahunt que passa a garantir esse direito a partir de fevereiro de 2001. Os brasileiros, nesse caso, tentariam obter um efeito retroativo à lei aprovada. “Essa lei vai evitar as consequências trágicas da deportação”, observa o congressista americano. “Ninguém quer desculpar ou justificar os crimes, mas o preço que esses jovens e suas famílias estão pagando está fora de proporção com os seus delitos. Eles devem ser tratados como qualquer criança americana.” Isso o mundo inteiro já sabia, menos os Estados Unidos.


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