Sob um sol escaldante, ele chega impecável em seu terno cáqui ao acampamento dos guerrilheiros do Khmer Vermelho no Camboja, território minado e onde nenhum diplomata havia pisado antes. Como prova de confiança, os guerrilheiros pedem que ele nade num rio. Sem titubear, ele entra na água. Era o ano de 1992. Negociava-se diplomaticamente a intrincada e difícil tarefa de repatriar 370 mil cambojanos, muitos vivendo na vizinha Tailândia.

A repatriação aconteceu sem uma única vítima. Esse é apenas um dos tantos méritos colhidos pelo carioca Sérgio Vieira de Mello, Comissário de Direitos Humanos na ONU que morreu em 19 de agosto de 2003, num atentado contra a sede da ONU em Bagdá. Sérgio era um homem eficiente, disposto e impaciente por resoluções. Tão sedutor que, do rei do Camboja Norodom Sihanouk a uma cozinheira de Moçambique, todos se emocionam quando falam dele. O documentário

A Caminho de Bagdá

, da jornalista brasileira Simone Duarte (foto), apresentado no Festival de Direitos Humanos de Paris e Genebra, e que será exibido na tevê brasileira pelo Canal Brasil na quarta-feira 23 (22h40), dá a exata dimensão da trajetória desse diplomata. Simone, que viajou oito países em quatro continentes, inclusive a fechada Coréia do Norte, consegue relatar como esse homem rompe com a armadura burocrática da ONU para colocar em prática aquilo em que mais acreditava: os princípios dos Direitos Humanos.


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