Muito além da detestável Íris, que irrita os telespectadores ao desrespeitar a tudo e a todos para conquistar o seu amado, ou do execrável Maurinho, que não hesita em extorquir a ex-mulher sempre que precisa de dinheiro, a novela Laços de família, da Rede Globo, criou um novo vilão. É o juiz Siro Darlan, responsável pela 1ª Vara da Infância e da Juventude do Rio desde 1995. Por fazer cumprir a decisão que proíbe a novela de entrar no ar antes das 21 horas (pelo menos nos Estados onde o horário de verão permite) e não deixar que crianças trabalhem na trama – nem na novela Uga Uga –, Darlan foi tachado por atores, autores e outros adversários de um novo inquisidor, disposto a retomar a censura dos anos de chumbo.

Mais do que acostumado a polêmicas, ele mantém a tranquilidade e, de saída, procura restabelecer os significados da palavra censura. “Pelo dicionário, é sinônimo de admoestação ou punição. Sempre que alguém infringe a lei, recebe uma censura. Em todas as sociedades é assim”, comenta. Mas, se a palavra é usada com o peso do autoritarismo da época do regime militar, ele discorda. “É decisão judicial, com amparo na lei, que seguiu todos os trâmites normais e permite recurso. Não há nada de discricionário nisso.”

Católico, pai de quatro filhos, praticante de natação e caminhada, Darlan é assíduo frequentador das manchetes. Uma das suas decisões polêmicas foi retirar o ator Marcelo Faria de uma novela depois que ele foi flagrado com maconha. Autuou também a atriz Alessandra Negrini por levar o filho de dois anos a um filme impróprio para menores. Mandou censurar os cartazes do show de dançarinas do Crazy Horse e permitiu que casais de homossexuais adotassem crianças. Darlan não concorda com quem o chama de intransigente. “No caso de Marcelo Faria, tudo acabou em um acordo”, lembra. O juiz explica que, antes da proibição de crianças nas novelas globais, a Globo recebeu 107 autos de infração em dois anos por descumprir as normas sobre o trabalho de crianças e adolescentes.

Nesse bombardeio, pouca gente apareceu em defesa do juiz. “Os artistas contratados pela emissora são parte interessada no caso, por isso criticam”, afirma o pediatra Lauro Monteiro, presidente da Associação Brasileira de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). “Ele é um juiz dedicado, que procura cumprir a lei.” Darlan, um paraibano de 50 anos, levou golpes de todos os lados. Uma nota publicada no jornal O Globo revelou que seu filho Guilherme, 14 anos, foi reprovado num teste para atuar no
programa da apresentadora Angélica. “Deram a entender que eu estava me vingando”, diz Darlan. O juiz esclarece que o garoto foi um dos 80 selecionados entre dez mil candidatos e no final foi excluído por não se enquadrar no perfil do personagem. “Ele chegou longe, considero-o aprovado. Além disso, já trabalhou nos programas de Xuxa, Renato Aragão e no Linha direta”, revela. Mesmo debaixo de fogo cerrado, Darlan não abre mão de seu estilo. Está processando todos os pais dos artistas-mirins por negligência. “Gravaram uma cena de casamento com uma criança de dois anos que foi até as 3 horas da manhã”, critica. “A criança que estava no colo, na cena em que a mãe brigava com o pai, sofreu dano psicológico. A cena foi gravada 19 vezes.” E arremata: “Eu apenas procuro cumprir a minha função.”


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