Ressuscitar o prazer de brincar de casinha, de fazer comidinha com as folhas da planta da mãe, de se imaginar um herói invencível com apenas um pedaço de pau na mão. Ou seja, fazer com que a criança volte a ser criança. E, principalmente, possa alimentar seu mundo de faz-de-conta até a puberdade sem vergonha disso. Esses são os objetivos da Casa dos Sonhos Estrela, inaugurada em São Paulo na terça-feira 21. “As crianças hoje são pressionadas a se comportar como pequenos adultos. Uma menina de dez anos até tem vontade de brincar de boneca, mas sente vergonha. Ela compensa com uma coleção de bichinhos de pelúcia”, observa Aires Fernandes, diretor de marketing da Estrela. Segundo ele, o menino é ainda mais prejudicado. “Todos os seus jogos infantis, como a luta e a corrida de carrinho, que envolviam fantasia, foram parar no computador ou no videogame”, comenta.

André Sarmento

No antigo casarão, construído numa área de 4.500 metros quadrados no bairro do Ibirapuera, as crianças poderão conhecer os brinquedos com os quais seus pais e avós brincavam. O Museu de Brinquedos reúne 150 peças desde 1930, garimpadas de colecionadores e em campanhas de doação. Estão lá uma das primeiras bonecas produzidas pela empresa no Brasil, com corpo de tecido e rosto de massa plástica; um dos primeiros bebês com movimentos nas pernas, da década de 50; o autorama lançado em 1965, que fez a alegria de meninos pequenos e de muitos marmanjos; e até o simpático Topo Gigio, ratinho que fez sucesso na tevê na década de 70. Além do museu, há 11 salas ambientadas com toda a linha de brinquedos Estrela, um teatro para gincanas e peças infantis, refeitório e, no grande quintal, uma brinquedoteca. Para estimular o clima de magia, logo na chegada duas árvores falantes cumprimentam os pequenos visitantes e no hall uma comitiva de bichos de pelúcia e um imenso urso de cinco metros fazem as vezes de anfitriões.

André Sarmento

A iniciativa da Estrela, que custou cerca de R$ 4 milhões, pode parecer uma reação a eventuais perdas de mercado. Mas não é. Embora as crianças venham abandonando cada vez mais cedo a fantasia, elas nunca deixaram de consumir brinquedos. No ano passado, a empresa faturou R$ 129 milhões e prevê para este ano um aumento de 12% a 15% nas vendas. A Casa dos Sonhos começa a funcionar no início de dezembro. Durante a semana, haverá visitas gratuitas para creches, escolas e instituições. A partir das 19h, e nos finais de semana, o espaço será aberto ao público. A entrada custará R$ 5 para maiores de dois anos.