Um riquíssimo inventário das imagens marcantes de cinco décadas de televisão no Brasil ocupa a Oca, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Transformado com requintes tecnológicos na “midiaesfera” da megaexposição 50 anos de tv e +, o prédio assinado por Oscar Niemeyer abriga um evento raro, composto só de imagens em vídeo, que abre para o público na terça-feira 5. Da vitória do Brasil na Copa do Mundo de 1970 à morte de Odete Roitman, a famosa vilã da novela global Vale tudo; do homem pisando na Lua a Elis Regina cantando Arrastão, grande parte dos momentos televisivos que ninguém esquece está lá reunida. O resultado impressiona. Por lidar com a memória coletiva, os curadores Marcello Dantas e Ralph Appelbaum abandonaram o didatismo e optaram pelo espetáculo. “Tevê é uma máquina de emoções. Procuramos mostrar como ela funciona e age sobre o telespectador”, explica Dantas.

A extravagância high tech, que exibe o primeiro filme em HDTV hemisférico do mundo, para ser visto em superfícies curvas, proporciona uma experiência singular. Logo na entrada, telões de vidro exibem a visão de 18 artistas sobre o tema, entre eles Arthur Omar e Eder Santos. Imersas no escuro, as imagens flutuam no ar. No meio delas, colunas receberam projeções de celebridades, que acenam para o público como num show de ilusionismo. Ao fundo, as janelas esféricas do prédio transmitem ao vivo emissoras egípcias, indianas e outras impensáveis nos pacotes da televisão a cabo.

De design arrojado é também o Passeio por 50 anos de tv, no subsolo, com seus corredores de tule branco, iluminados por luz negra. No primeiro andar, parte deste conteúdo é depois vista em maior duração nas projeções em forma de elipse no segmento A emoção coletiva, reunindo os momentos nos quais a tevê mais polarizou as atenções. Fruto da parceria entre a Associação Brasil + 500 e a Globo.com, que investiu R$ 3,5 milhões, a exposição soma 3.500 metros quadrados de área projetada e 11,5 horas de gravação. Mas o visitante não precisa se desesperar. Ninguém é louco de passar o dia inteiro vendo tudo. Nem Dantas se considera um sádico. “Para consumir mídia é preciso colocar filtro.” Então, que cada um faça o seu zapping.