Não há dúvidas de que a última moda na televisão brasileira é mostrar a cara e a vida de pessoas comuns. Na mesma linha, mas na contramão das outras atrações do gênero, o quadro Retrato falado, que a atriz Denise Fraga estrela no dominical Fantástico, prova que não é preciso expor ninguém a situações embaraçosas nem bizarras para fazer sucesso. Criado em 1999 como parte de Zorra total, Retrato falado se firmou neste ano justamente depois de mudar de programa. A mudança foi positiva, tanto para o quadro quanto para o Fantástico. Desde maio, quando estreou nas noites de domingo, já atingiu picos de 48 pontos na medição do Ibope e, invariavelmente, faz a audiência de seu hospedeiro subir. Graças aos números, o quadro já tem vida garantida até o fim de 2001 e pode crescer.

Tragicomédia – A engenhoca de Retrato falado é simples. Semanalmente, a produção do programa recebe cerca de mil histórias tragicômicas vividas pelos telespectadores. Depois de uma peneirada, os casos escolhidos são checados e se transformam em roteiros de quase dez minutos. São episódios em sua maioria bem-humorados, contados em parte pela própria pessoa, ou pessoas envolvidas, e por Denise Fraga, que os teatraliza junto a atores convidados. Não precisam ser histórias hilariantes. Segundo Luiz Villaça, idealizador e diretor do programa, muitas delas são mais emocionantes do que divertidas. Villaça criou o programa para Denise, sua mulher e atriz-fetiche. “A cada dia que passa tenho mais vontade de trabalhar com ela. Denise é uma atriz perfeita”, derrama-se ele, que ainda destaca a agilidade ganha pelo quadro desde que chegou ao Fantástico, graças a inserções de dados estatísticos e curiosidades.

Num episódio recente, Denise vivia uma mulher revoltada com a indiferença do marido toda vez que passava um jogo na tevê. Inconformada, a moça começou a estudar as regras do futebol e se tornou uma expert. Hoje, comenta todas as partidas ao lado do marido numa rádio da cidade onde vivem. A idéia e a realização de Retrato falado podem ser primorosas, mas sua grande atração chama-se Denise Fraga. Consagrada nos palcos e no cinema com Trair e coçar é só começar e O auto da Compadecida, ela só ganhou notoriedade nas ruas graças à tevê. Aos 36 anos, a atriz esbanja humor na medida certa. É versátil para viver todos os tipos de mulheres. Num mesmo dia de gravações pode ser uma dona-de-casa que vira empregada doméstica para provocar o marido ou uma fã de Paul McCartney, que se muda para Londres com a intenção de estar mais perto do ídolo. “Não fico mais presa aos trejeitos da pessoa real. Agora, me preocupo em passar minha própria impressão, como numa pintura”, conta ela. Uma pintura bem divertida, diga-se.