O dia 16 de agosto vai ficar na história brasileira. Nesta data, no ano de 1992, milhares de brasileiros foram às ruas pedindo o impeachment do ex-presidente e hoje senador Fernando Collor. Mais de duas décadas depois, o fenômeno se repetirá. Trabalhadores, integrantes de movimentos sociais e militantes de partidos políticos se programam para encher as ruas dos principais centros urbanos do país no domingo 16. Os organizadores do protesto que pedirá o fim do governo Dilma Rousseff apostam que a manifestação vai superar, em número e intensidade, o 15 de março, que reuniu mais de dois milhões de pessoas.

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PAUTA
Em março, milhares de pessoas se reuniram na Avenida
Paulista, em São Paulo, para pedir o fim do governo petista

O clamor das ruas está maior, mais forte e tende a representar, na prática, o resultado das pesquisas que mostram uma presidente rejeitada por 71% da população, índice pior do que o de Collor antes do impeachment, segundo o Instituto Datafolha. Os brasileiros ocuparão as ruas embalados por uma profunda descrença no cenário econômico do país e indignados com a corrupção exposta pelas investigações da Operação Lava Jato, que colocou atrás das grades figuras que ocuparam cargos estratégicos no governo do PT. O último foi o ex-ministro José Dirceu, condenado e preso por participação no esquema do mensalão e agora novamente detido por envolvimento com o petrolão.

A prisão de Dirceu, na segunda-feira 3, aumentou ainda mais a temperatura que separa a população do governo de Dilma. Na noite de quinta-feira 6, propaganda partidária obrigatória exibida em rede nacional ignorou o trabalho da Lava Jato e tentou dividir com o povo brasileiro a responsabilidade pela estabilidade do país. O resultado não poderia ser pior. Buzinas e panelas ecoaram durante a exibição do programa.

Os preparativos para as manifestações marcadas para o dia 16 estão a todo vapor. Movimentos sociais organizaram um sistema de arrecadação de recursos para contratar carros de som. Em vez das camisas amarelas da Seleção Brasileira de Futebol, entidades como o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua produziram camisetas amarelas com estampa das torres do Congresso substituindo a letra “L” do nome Dilma, em verde e amarelo, inspiradas no “Fora, Collor”, dos protestos ocorridos em 1992.

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Os movimentos elaboram faixas exigindo a renúncia da presidente. Na sexta-feira, 14, há previsão de início de grande paralisação de caminhoneiros em adesão ao protesto do domingo. Os partidos da oposição mobilizam a militância para engrossar a manifestação. Os adversários defenderão a realização de novas eleições, informa o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP). “Estamos fazendo um chamamento nacional.”

Nos protestos do dia 15 de março, os estados do Nordeste registraram adesão menor em comparação ao Sul e Sudeste. O impacto dos programas de distribuição de renda na região mantinha os estados como fronts de defesa do governo. A alta de preços e o desemprego, no entanto, estão sendo fortemente sentidos na região e por isso os organizadores do Movimento Nordeste em Luta acreditam que desta vez o número de adesões aos protestos será muito maior.

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O grito das ruas poderá ser decisivo para definir o futuro político do País. A história já mostrou que a mobilização da sociedade civil é capaz de mudar os rumos em situações de impasse. Foi assim na campanha pelas eleições diretas, em 1984, no primeiro grande movimento popular no período da ditadura. De pronto, o Congresso Nacional não aprovou o pleito, mas cinco anos depois o Brasil elegia seu primeiro presidente pela via direta depois de 25 anos (o ex-presidente Fernando Collor). Três anos depois, o mesmo Collor deixou a presidência da República após um processo de impeachment exigido, nas ruas, pela população. Em especial, pelos estudantes, que saíram com rostos pintados de verde-amarelo e acabaram ficando conhecidos como os cara-pintadas.

Para o movimento do dia 16, a preocupação do PSDB é a movimentação de grupos de militares da reserva que se organizam para ir às ruas com camisas camufladas e cartazes pregando “intervenção, já”. Os tucanos não querem se vincular a pessoas que pedem o fim do governo Dilma por vias não democráticas. O PT, por sua vez, tenta encontrar uma forma para responder à manifestação. O partido convocou a militância para ir às ruas defender o governo no dia 20, mas algumas lideranças ponderaram que a contraofensiva poderia causar confrontos entre os cidadãos, complicando ainda mais a situação. 

Fotos: Paulo Pinto/ Fotos Públicas; Danilo Verpa/Folhapress