O economista gaúcho Diógenes José Carvalho de Oliveira, 57 anos, sempre fez parte da “entourage” do governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT). Peça-chave na arrecadação de recursos para campanhas, ele preside até hoje o Clube de Seguros da Cidadania, entidade criada justamente para esse fim. Em janeiro de 1999, Diógenes procurou o recém-nomeado chefe de polícia, delegado Luiz Fernando Tubino. Ele e o coordenador da campanha petista, Dirceu Lopes, sugeriram ao delegado que a polícia não deveria mais extorquir o jogo do bicho, porque o dinheiro da contravenção iria para obras sociais do governo. Dias depois, Tubino foi convidado por Diógenes para ir à sua casa para uma conversa particular. Lá, o economista reafirmou ao delegado que, “por determinação do governador”, a polícia deveria deixar de reprimir os bicheiros. “Sempre tivemos uma relação muito boa, muito estreita, com esse pessoal do Carnaval e do jogo do bicho”, esclareceu. A história não é nova, mas o teor dessa conversa só veio à tona na sexta-feira 26, quando uma fita gravada do diálogo apareceu na CPI da Segurança Pública da Assembléia Legislativa gaúcha. “Ele não estava autorizado a falar em nome do governo”, reagiu Olívio Dutra. Acuado, Diógenes admitiu ter dado “uma carteirada” no delegado, mas disse que falara “indevidamente em nome do governador”.

ISTOÉ, que revelou as conexões do governo Dutra com a jogatina na edição 1657, de julho passado, descobriu que Diógenes tinha sim delegação do governador para tratar do assunto. Segundo uma fonte muito bem informada, antes de ir à casa do economista, o delegado Tubino procurou o governador para relatar o que considerou um inusitado convite. “Pode ir lá, porque o companheiro Diógenes fala em meu nome e em nome do partido. Ele é de confiança”, garantiu Olívio Dutra. Depois disso, Tubino conversou com o vice-governador, Miguel Rosseto, a quem afirmou que havia um boato de que o governo estadual estava pegando dinheiro do jogo do bicho e isso era “muito grave”. Rosseto teria reconhecido a gravidade dos “boatos” e prometido a Tubino tomar providências. Desde então, como mostrou a reportagem de ISTOÉ, o governo gaúcho tomou uma série de medidas, algumas desastradas, tentando legalizar as máquinas caça-níqueis e até autorizando a criação de uma nova modalidade de jogo, o “cassino virtual”.

Diógenes de Oliveira está sendo investigado por uma comissão de ética do PT e pode até ser expulso do partido. Tinha um currículo esquerdista impecável. Fez curso de guerrilha em Cuba em 1967 e, no ano seguinte, ajudou a fundar a organização guerrilheira Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Preso e torturado em 1969, exilou-se na Bélgica, onde cursou a Universidade de Lovain e aprendeu o idioma flamengo. Trabalhou também no Ministério do Planejamento da Guiné-Bissau. De volta ao Brasil depois da anistia (1979), entrou no PT e foi secretário dos Transportes do prefeito Olívio Dutra (1989-1992). “Não há como desvincular a figura do Olívio e do Diógenes; para nós, eles estão umbilicalmente ligados; o Diógenes sempre foi figura de copa e cozinha do Piratini”, disse o deputado Vieira da Cunha (PDT), relator da CPI.


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