Quase não existem mais mulheres como Grace Kelly ou Jacqueline Kennedy Onassis, que, além de famosas, impressionam pela beleza, classe e elegância. A rainha Silvia, da Suécia, que esteve no Brasil para visitar os projetos assistenciais de sua fundação, a World Childhood Foundation, é uma delas. Silvia Renata de Toledo Sommerlath, 57 anos, esposa do rei Carl XVI Gustav, filha de mãe brasileira e pai alemão, passou sua infância, dos quatro aos 13 anos, em São Paulo. Em julho deste ano, a rainha fez bodas de prata com o príncipe que conheceu nas Olimpíadas de Munique de 1972, antes de ele ser coroado rei da Suécia. Vestindo um tailleur vinho e portando um relógio de ouro e diamantes, com dois delicados mostradores – um no horário sueco e outro no brasileiro –, a “rainha brasileira” falou a ISTOÉ sobre os objetivos de sua instituição, a luta contra a pedofilia e até sobre sua vida pessoal.

ISTOÉ – Por que a sra. resolveu abraçar uma causa tão polêmica?
Silvia Sommerlath – Em 1993 e em 1994, houve dois casos chocantes de pedofilia na Suécia. Até então, ninguém tinha a coragem de falar sobre a violência sexual contra crianças. Para mim, como mulher, como mãe e também como rainha, não foi fácil falar a respeito. Então, em 1998, nasceu a World Childhood Foundation, que no Brasil foi fundada no ano passado.

ISTOÉ – O Nordeste é um lugar onde convivem investimentos em projetos como o seu, mas também onde floresce o turismo sexual. Como explicar isso?
Silvia – Hoje os valores éticos e morais estão muito distorcidos e há um aumento dos crimes sexuais. Existe uma indústria do turismo sexual que até tem pacotes promocionais. Há alguns anos, essa exploração se concentrava na Ásia, mas hoje o turismo sexual desviou-se para a América Latina. Mas alguns países fizeram acordos com a Organização Mundial de Turismo para impedir que turistas tenham acesso aos hotéis que promovam esse tipo de atividade.

ISTOÉ – Como a sra. vê a situação das crianças na guerra? Em Kosovo, soldados violentaram crianças e não foram julgados. No Afeganistão, mulheres e crianças são a maioria dos refugiados.
Silvia – No caso de Kosovo, os soldados deveriam ter sido convocados pela Convenção dos Direitos da Criança da ONU e julgados por um tribunal internacional. Em relação aos civis afegãos, a situação me deixa muito preocupada. As organizações de ajuda humanitária, como o Unicef e a Cruz Vermelha, estão presentes, mas a situação de trabalho deles é muito difícil.

ISTOÉ – Como é ser mãe de adolescentes expostos aos paparazzi?
Silvia – Todos os pais de adolescentes estão numa situação semelhante: os filhos querem ser independentes. Na situação deles, ainda é mais delicado. Mas eu creio que meus filhos escolherão a melhor forma de viver e terão boas pessoas como companheiras.

ISTOÉ – O que uma rainha tem vontade de fazer que não pode?
Silvia – Perdi a espontaneidade. Tenho vontade de dizer coisas como “hoje eu quero ir ao cinema” e isso não dá.

ISTOÉ – O que a sra. tem de mais brasileiro?
Silvia – Dizem que tenho o coração brasileiro e a cabeça alemã, não sei. Sou carinhosa com os filhos, mas só que não demonstro isso em público. Também gosto da música brasileira. Nas minhas bodas de prata, tocaram Villa-Lobos.