A guerra contra o Afeganistão já dura quase um mês. Entre as maiores baixas provocadas pelas bombas até agora estão instalações da Cruz Vermelha, incluindo aí um hospital, e a população afegã, que, aos milhões, congestiona as fronteiras do Paquistão na patética condição de refugiada. Também gravemente atingida foi a quase unanimidade inicial em relação aos bombardeios: enquanto o medo de mais atentados e as mortes pelo antraz crescem, Osama Bin Laden continua vivo e solto.

Para Robert Bowman, o entrevistado desta edição, “entrar numa guerra como esta é desaconselhável porque transforma os terroristas em guerreiros”. Bowman não é nenhum pacifista xiita, como poderia parecer, mas um tenente-coronel americano da reserva com um currículo surpreendente. Foi diretor do polêmico projeto Guerra nas Estrelas, nos governos Ford e Carter, pré-candidato à Presidência da República pelo partido de Ross Perot e, como piloto da Força Aérea, participou de 101 missões de combate no Vietnã.

PhD em Engenharia Aeronáutica e Nuclear, foi diretor do Departamento Europeu de Pesquisa e Desenvolvimento Aeroespacial e presidiu o Instituto de Estudos para o Espaço e Segurança. Quando, anos atrás, Clinton foi à televisão para anunciar aos americanos que havia ordenado ataques contra Bin Laden, depois da destruição de duas embaixadas americanas, Bowman enviou-lhe uma carta na qual alertava para a ameaça do terrorismo nuclear, químico e biológico. Nela, também escreveu este interessante trecho: “Sr. presidente, o senhor disse que a América é o alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos no mundo. Conversa fiada! Somos alvo do terrorismo porque defendemos ditaduras, escravidão e a exploração humana no mundo. Somos alvo porque somos odiados. E somos odiados porque nossos governos fizeram coisas horríveis.”

Para o militar reformado, matar Bin Laden agora seria eternizá-lo como mártir. A entrevista foi feita pela subeditora Kátia Mello.