Do navegador Amyr Klink já se ouviu falar de tudo. Exímio conhecedor dos pólos terrestres, foi o primeiro a fazer sozinho a travessia do Atlântico a remo, percorreu os 360o da Terra ao redor da Antártica e agora se prepara para dar a volta ao mundo. Com um currículo internacionalmente aplaudido, ninguém esperava vê-lo envolvido numa denúncia de desrespeito a uma lei ambiental. Principalmente, se ela parte da cidade que leva o nome de sua embarcação – Paraty. Há seis meses, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vem acusando o navegador de fazer um aterro no mar para servir de apoio a sua marina. Trata-se de uma espécie de placa de terra na forma de trapézio, com laterais de 25 e 30 metros, colada na costa de uma área da qual Amyr possui um contrato de comodato.

“O que ele fez foi gravíssimo. Qualquer pessoa sabe que aterrar o mar é proibido”, acentua o diretor do Iphan em Paraty, Júlio Cezar Dantas, acrescentando que o terreno ainda abriga a antiga residência da mãe do escritor Thomas Mann. Em maio deste ano, Júlio Cezar embargou a construção do aterro, mas a iniciativa não surtiu o efeito esperado. “Não me considero embargado porque nunca houve uma obra lá”, explica o navegador. Na sua versão, o aterro foi feito no século XIX pelo antigo dono da fazenda, que usava o espaço para embarcar cana-de-açúcar. Com o passar dos anos, a terra teria cedido, sobrando apenas uma parte do projeto original. “Eu não desenhei o trapézio. Tudo o que fiz foi restaurar o muro e devolver a terra para fazer daquilo um pátio útil”, afirma. Amyr Klink conta também que antes da reforma, feita há cinco anos, a plataforma estaria coberta por lama e mato. Por essa razão, ninguém conseguia ver o aterro e a continuação do muro de pedras.

A cidade de Paraty está longe de ser um exemplo de rigor nas exigências urbanísticas. Num passeio de barco é possível ver, por exemplo, a ponta de pedra que se transformou num heliporto ou o mangue que virou um muro de concreto. A polêmica sobre a plataforma só veio a público porque o vizinho do navegador procurou o Iphan há seis meses. “Não admito que alguém faça um aterro desses do meu lado”, diz o empresário Cyril Bernard. A prefeitura e o Ibama não se posicionaram oficialmente, embora tenham dito a ISTOÉ que o navegador cometera uma irregularidade. E é aí que surge o outro lado da lama. Amyr Klink acredita que a pressão do empresário está levando as autoridades a radicalizar a questão. “Ele sempre quis comprar a área que eu ocupo”, dispara. O impasse agora está indo parar na Justiça Federal.


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