Todos os dias, um exército de cientistas labuta para entender os mecanismos do câncer e criar armas mais inteligentes para combatê-lo. Por causa desse esforço, caminhos importantes estão se abrindo. Na semana passada, foi a vez de especialistas do Marie Curie Research Cancer, em Londres, anunciarem novidades contra o melanoma, o mais fatal dos cânceres de pele (manifesta-se com pintas assimétricas que mudam de cor. No Brasil, há cerca de seis mil novos casos por ano). Os cientistas descobriram um jeito de colocar as células tumorais em uma espécie de “coma”, condição na qual elas não se dividem e não se espalham. Esse efeito “boa-noite, cinderela”, desfechado em laboratório, foi conseguido com a ativação de um mecanismo de defesa natural do organismo, a senescência. “Ele impede a reprodução descontrolada de células atingidas por eventuais mutações nos genes”, explica o oncologista Rogério Neves, do Hospital do Câncer de São Paulo. No câncer essa estratégia está desativada.

Após seis anos estudando o gene Tbx2, encontrado no melanona e em outros tumores, os cientistas descobriram que a sua desativação faz entrar em ação o mecanismo de autoproteção do corpo contra a reprodução descontrolada das células. “Foi uma surpresa quando inibimos o Tbx2 nas células do melanoma e elas pararam de se multiplicar. Esse pode ser um novo caminho para conter a divisão de células cancerosas”, disse o líder da pesquisa, Coling Goding. Atualmente, os tratamentos disponíveis são a remoção cirúrgica e a quimioterapia.
“A descoberta é interessante, mas ainda é necessário pesquisar muito até que
se torne um avanço no tratamento”, avalia o dermatologista Fernando Almeida,
do Grupo Brasileiro de Melanoma (entidade que reúne especialistas nesse tumor). De fato, há muitos aspectos a serem investigados antes da criação de um remédio. “Não se sabe se a ativação do mecanismo de proteção poderá ser feita em
todos os melanomas ou apenas em alguns tipos e se haverá outras
mutações”, afirma Neves.

A pesquisa genética também acena com novas ferramentas para diagnóstico. Na semana passada, pesquisadores brasileiros do Genom a Humano do Câncer divulgaram a identificação de três genes que poderão revelar tumores de boca, laringe, faringe e tireóide. A cada ano, esses tumores atingem 22 mil pessoas no País. “Identificamos genes que têm expressão diferente do normal nos tumores”, explica a bióloga Eloiza Tajara, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), que coordenou o trabalho em parceria com o geneticista Emmanuel Dias Neto, da Universidade de São Paulo.