As últimas proezas do cartola Eurico Miranda confirmam o seu lugar na interminável galeria dos vilões brasileiros de todos os quilates. Ao lado do juiz Lalau, figura na estante dos anti-heróis na medida. Bate boca com torcedores, invade o campo e interrompe o jogo, festeja títulos não conquistados, despeja com gosto palavrões sobre seus críticos e se envolve em operações de difícil explicação. A multidão se excita, compra jornais e revistas, gruda na tevê e não pensa nos demais vilões. A truculência do cartola, atributo não exclusivo e herdado não se sabe se da ditadura ou do período escravagista (talvez de ambos), não faria falta ao sobrecarregado Brasil. Mas passa longe dos nossos problemas principais. De maior utilidade para o País seria esquadrinhar a seção dos larápios refinados, exímios ocultadores de pistas, manipuladores imbatíveis de firulas legais e especialistas em conexões com o poder. Protegidos pelos paraísos fiscais e pela permissividade reinante, não se expõem aos refletores. De vez em quando, são tirados da penumbra pela determinação de um procurador corajoso ou por uma reportagem investigativa. Mas, ao contrário do que acontece em países com sociedades que sabem se defender, passam a anos-luz da cadeia, reservada apenas a alguns dos vilões na medida, como o ex-juiz Lalau. Euricos e Lalaus, bois-de-piranha como tantos outros que se revezam nas manchetes da imprensa, têm uma função central: deixar-se devorar enquanto o resto da boiada chega ileso ao outro lado do rio.