Alguns médicos costumam dizer que, se for para sofrer uma parada cardíaca, é melhor estar em Seattle, nos Estados Unidos. A brincadeira faz algum sentido. Cerca de 85% da população dessa cidade é treinada para socorrer vítimas de ataques cardíacos, quando o coração pára de funcionar. O esquema funciona. Estatísticas mostram que 80% desse problema acontece em casa e na presença dos filhos. Quanto maior o número de pessoas treinadas, mais vítimas são salvas. Para nossa sorte, o programa dos americanos, batizado de ressuscitação cardíaca, também está virando moda por aqui. Há cerca de seis meses, a Fundação do Coração, órgão da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em São Paulo, começou a implantá-lo pelo Brasil afora. Na capital paulista, por exemplo, o Instituto do Coração (Incor) é um dos palcos do curso. A platéia é bem variada. Pode-se encontrar desde enfermeiros até professores. “O ideal é ter uma grande variedade de pessoas no programa, pois os primeiros socorros após a parada cardíaca são fundamentais para salvar uma vida”, afirma Sérgio Timerman, cardiologista do Incor e coordenador do projeto.

De acordo com Timerman, se o paciente for socorrido nos cinco minutos seguintes à parada do coração, há 50% de chances de ele sobreviver – isso porque o cérebro começa a se degenerar quatro minutos depois do ataque. O problema é a desinformação. Às vezes, quem ajuda toma atitudes inadequadas, como tentar levantar rapidamente a vítima, prejudicando ainda mais seu estado. Por isso, é importante o leigo saber agir nessa hora (confira as etapas do salvamento nas fotos acima e na pág. 64). “São procedimentos simples e qualquer pessoa sem noções médicas tem condições de aprender”, avalia Nabil Ghorayeb, cardiologista do Hospital do Coração, em São Paulo. Por enquanto, os interessados pagam cerca de R$ 80 pelo curso. A SBC espera em breve poder promover treinamentos gratuitos para a população. Maiores informações são obtidas pelo telefone (11) 3849-6438.

A secretária Deunides Silva Santos, 27 anos, fez o curso no ano passado. Seu pai sofre de pressão alta e ela se sentiu na obrigação de aprender o que fazer caso aconteça um imprevisto. “É bom estar prevenida”, afirma. Com o auxílio do colega Ricardo Lazaro, 23 anos, ela simula nas fotos desta reportagem os primeiros socorros a uma vítima de parada cardíaca.

Aeroportos – A importância desse programa de ajuda a pacientes com ataques cardíacos se refletiu até mesmo no Congresso. Lá, os seguranças da Presidência da República foram treinados para entrar em ação. O projeto interessou também aos aeroportos, já que um grande número de paradas cardíacas acontece nesses locais por causa do stress dos passageiros. No Rio, a direção do Santos Dumont treinou mais de 80 funcionários a prestar os primeiros socorros e também a usar o aparelho desfibrilador. A máquina, instalada na sala de embarque do local, ajuda a estimular os batimentos cardíacos. “O desfibrilador deveria estar presente em locais públicos da mesma forma que o extintor de incêndio”, opina Paulo Magalhães, médico da Varig. A empresa orientou ainda cerca de 1.200 comissários de bordo a usar o equipamento, disponível em aviões de grande porte, como os que realizam vôos internacionais, e nos de ponte aérea. Essa precaução, seguida por outras companhias, é uma forma de garantir que o coração dos passageiros será bem tratado, mesmo distante de um posto médico.

Fotos: Max G. Pinto
Na parada cardíaca, a pessoa desmaia. Toque nela e chame-a pelo nome. Ligue para o serviço de emergência, se não houver resposta. Em seguida, cheque possíveis traumas na vítima. Se estiver tudo bem, incline o rosto dela para trás, elevando o queixo com uma mão enquanto com a outra empurra a cabeça para baixo. Confira a respiração. Para verificar se a respiração está em ordem, é preciso manter a cabeça da vítima inclinada para trás. Coloque seu ouvido perto da boca e do nariz da pessoa que sofreu a parada cardíaca. Observe a movimentação do tórax. Seja ágil. Se o atendimento for prestado em até cinco minutos após o ataque, as chances de salvamento são de 50%.
Se não há respiração, feche o nariz da vítima com uma das mãos, coloque sua boca na boca da pessoa e sopre ar por cerca de dois segundos, lentamente. Repita o movimento. Verifique se o tórax sobe e desce. Tome o pulso da pessoa. Se não houver pulsação, intercale o procedimento anterior com 15 compressões torácicas. Posicione uma mão no centro do tórax e coloque a outra sobre a primeira. Use a força do corpo. O movimento de compressão deve ser ligeiro.
Tome o pulso de novo. Se a circulação voltou, pare a compressão e continue a realizar as respirações a cada cinco segundos.

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