O carioca Bruno Tannuri, 27 anos, teve uma vida escolar que levaria qualquer pai ao desespero. Na infância, trocou de escola nove vezes e acumulou repetências. Adulto, passou por três faculdades, sem concluir nenhuma. Tannuri nunca leu um livro inteiro. Quando ele chega ao final da página, não se lembra de mais nada. Escrever é mais um tormento. Seus erros de português são crassos. Tannuri não tem paciência para prestar atenção em aulas, mas sua dificuldade com os estudos envolve um problema maior e ainda pouco compreendido pela população: a dislexia, um distúrbio que afeta a capacidade de leitura e escrita.

A dislexia não é doença. “É um funcionamento diferente do cérebro. As pessoas disléxicas têm dificuldade em traduzir a linguagem ouvida ou lida para o pensamento”, explica a fonoaudióloga Patrícia Lima, que trata Tannuri há um ano e meio. Patrícia, que também é disléxica, inaugurou no mês passado a Associação Nacional de Dislexia (AND). O grupo pretende descobrir quantas são as pessoas com esse distúrbio no Brasil. Outro objetivo da entidade é discutir o problema no Congresso Nacional. “Vamos elaborar projetos de lei que protejam os disléxicos. E também queremos preparar professores para lidar com este tipo de aluno”, diz a fonoaudióloga. A adolescente Danielle Ribeiro, 14 anos, tinha problemas na escola por causa da dislexia. Recentemente, ela conquistou o direito de fazer exames orais para qualquer matéria na escola que frequenta, no Rio. “O problema do disléxico é que ele não entende o que lê. Provas orais facilitam mostrar que sabe a matéria”, justifica Patrícia. A fonoaudióloga frisa que dislexia não é sinônimo de baixa inteligência. Ela sustenta que, apesar das dificuldades de aprendizagem, os disléxicos costumam se sobressair devido à memória visual extraordinária. Além disso, eles são perfeccionistas e criativos. A lista de talentosos com esse problema é extensa. São pessoas como os atores Tom Cruise, Dustin Hoffman e Jack Nicholson, o pintor Leonardo da Vinci e o escultor Auguste Rodin.

A habilidade gráfica do universitário Vinícius Coutinho, 21 anos, também chama a atenção. O jovem tem um currículo escolar sofrível. Em compensação, seu talento para o desenho é incontestável. Ele já conseguiu um emprego, enquanto muitos de seus colegas da faculdade de design ainda batalham por um estágio. “Meu currículo é um portfólio. Hoje sou diagramador e webdesigner de uma empresa de sites”, diz, satisfeito com o reconhecimento da qualidade de seus trabalhos.