Alvo das atenções de todo o País, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, entrou no novo milênio com o pé esquerdo, no sentido não político da palavra. Ao tomar posse prometendo priorizar o combate às mazelas sociais – discurso repetido por boa parte da nova safra de prefeitos, apesar do aperto que a Lei de Responsabilidade Fiscal vai impor às administrações municipais –, Marta deparou-se com a ausência da principal estrela de seu partido, o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. O incômodo entre os petistas era indisfarçável. A gafe de Lula, que está em Florianópolis e só volta no dia 15, deixou margem para especulações, como a de que estaria incomodado com o brilho da estrela petista feminina. “Lula conversou com Marta pelo telefone no dia 1º. Acredito que ele não quis privilegiar um prefeito. Afinal, nós conquistamos mais cinco capitais, além de São Paulo (Porto Alegre, Belém, Recife, Aracaju e Goiânia)”, argumentou o deputado federal José Genoíno, que representou a direção nacional do PT na posse. Otimista com o desempenho dos prefeitos petistas, Genoíno alertou que eles não devem se transformar em “reféns” da eleição presidencial de 2002.

Empossada, Marta queria fazer de sua primeira atividade um símbolo da luta contra a pobreza, ao realizar um almoço com 50 sem-teto e representantes de entidades, na terça-feira 2. Mas apareceram 300 sem-convite. Com a confusão, foram providenciadas na última hora quentinhas de emergência. Herdeira de uma montanha de problemas, Marta acabou arranjando mais um à sua vasta coleção nesse mesmo dia, ao criar atrito com os jornalistas e fotógrafos que a acompanhavam. Formada em psicologia, Marta, que circulava pelo Palácio das Indústrias cercada por vários guardas civis, demonstrou ainda não estar preparada para lidar com o assédio da imprensa. Cerca de 30 jornalistas ficaram trancados dentro de uma sala da prefeitura durante alguns minutos, sob o olhar de guardas, enquanto a prefeita vistoriava a sede do governo, longe da mira dos repórteres. No dia seguinte, seguranças chegaram a fechar a avenida Nove de Julho para evitar que os carros da imprensa acompanhassem a prefeita. O mal-estar com os jornalistas fez com que ela se explicasse: “Não posso falar o que penso. Político não faz isso. Geralmente é alguém ao lado dele quem faz isso. Eu tenho que aprender. Ainda não sei fazer assim. É por isso que sou considerada mal-educada e estrela.”