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Nesta terça-feira (30) venceu o prazo para que a Grécia pague uma parte de sua dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, já anunciou que o valor de 1,6 bilhão de euros não será pago e a Grécia se tornou o primeiro país desenvolvido a dar calote no Fundo em toda a história.

Mais cedo, a zona do euro havia rejeitado uma extensão do plano de ajuda financeira à Grécia. Além do FMI, o Banco Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia também são credores do país.

O vencimento de hoje é só uma parte da dívida grega, em uma crise econômica que se agravou em 2008, quando o mundo todo sofreu os efeitos da crise americana. Desde então, o problema grego só se agravou. Entenda:

O valor da dívida grega, atualizado, chega a 240 bilhões de euros. Os compromissos mais urgentes são:
– 1,6 bilhão de euros ao FMI para pagamento até hoje;
– 452 milhões de euros para o FMI e 3,5 bilhões para o Banco Central Europeu, com pagamento em julho;
– 176 milhões de euros para o FMI e 3,2 bilhões para o Banco Central Europeu, com pagamento em agosto.

No próximo dia 5 de julho haverá um referendo em que a população grega irá votar se aceita um novo plano de austeridade dos credores em troca de recursos (SIM) ou se não aceita as exigências da União Europeia (NÃO), o que pode levar à saída do país da Zona do Euro e à volta da Dracma como moeda oficial no lugar do euro.

– A própria Zonado Euro já condicionou a permanência do país no bloco à vitória do Sim

– Contudo, a vitória do Sim pode levar à renúncia do Alexis Tsipras, líder da esquerda, que se elegeu em janeiro deste ano prometendo endurecer a negociação com os credores

– Pesquisas de opinião indicam que a população tende a votar por um acordo com os credores

Se não houver acordo entre a Grécia e os credores, a linha de financiamento ao governo grego e aos bancos será cortada, o que diminuirá o crédito do país e afundará a economia em uma recessão ainda mais forte. Além disso, quanto mais tempo a Grécia demorar para ajustar as contas da casa, maior será a sua dívida. Jörg Asmussen, do Conselho de Administração do BCE, declarou que a demora no ajuste “faria a razão da dívida ante o PIB do país ultrapassar a meta dos 120% em 2020, que é o limite superior considerado viável para a Grécia”. Em 2011, pouco depois do início dos empréstimos à Grécia, o endividamento chegou a 165,3% do PIB.

– O governo decretou o fechamento dos bancos por sete dias, começando ontem (29), para evitar uma corrida da população para a retirada do dinheiro, temendo a quebra das instituições.

– Os saques ainda podem ser feitos, porém estão limitados a 60 euros por dia para evitar o colapso bancário

Austeridade: a palavra quer dizer controle rígido de gastos do governo. A ação tem consequências diretas para a população, com corte de crédito e investimentos. Apesar de todo o aperto nos gastos, a dívida pública da grécia chegou a 177,1% do seu PIB em 2014. Os principais efeitos:

PIB: As medidas causaram uma forte recessão na Grécia. Se em 2004 o crescimento da economia do país foi de 5%.Em 2014 país cresceu apenas 0,8% após cinco anos de retração, como em 2011, quando o país chegou a encolher 8,9%.

Desemprego: a taxa de desemprego no país é de 26,5% (contra 5% na Alemanha). Se considerada apenas a população jovem, chegou a 51,1% de desocupados no fim de 2014.
                   
 

                     

O começo de tudo
Antes de a Grécia entrar na zona do euro, em 2001, o governo local já era mal visto por outros países do bloco por gastar mais do que arrecadava. Os motivos eram diversos – a começar pelas contas públicas. O país, por exemplo, tem muitos aposentados, o que aumenta significativamente os gastos com previdência.

Além disso, os gregos são conhecidos por pagar pouco imposto. Em 2012, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, foi dura nas críticas. Disse que os gregos devem pagar mais taxas se querem que suas crianças tenham acesso a uma boa saúde e educação.

Para conseguir a adesão ao bloco europeu, a Grécia chegou a maquiar os dados da dívida. Depois de entrar na zona do euro, instaurou-se o otimismo. O risco dos títulos gregos (os papéis emitidos pelo governo como garantia de pagamento de empréstimos) diminuiu, fazendo com que o país vendesse diversos bônus no mercado e aumentasse ainda mais a sua dívida. O governo gastou mais nos primeiros anos na zona do euro e, ao mesmo tempo, não fez ajustes necessários.

A crise que assolou as principais economias do mundo em 2008 acabou com a “farra do boi” da Grécia. O mercado de títulos diminuiu a liquidez, investidores estrangeiros se tornaram mais seletivos a quem iam emprestar dinheiro.

Ao mesmo tempo, a crise fez a Grécia aumentar os gastos sociais à medida em que cresceu o número de desempregados no país. A turbulência financeira abriu os olhos da Europa para o problema: a dívida grega, que já vinha de um histórico alto, caminhava para se tornar impagável. Foi então que os empréstimos do BCE, União Europeia e FMI ao país começaram.