O novo milênio promete ser explosivo se depender do prefeito do Rio, Cesar Maia. Ele tomou posse na segunda-feira 1º dinamitando atos da gestão anterior e de inimigos declarados: os institutos de pesquisa. Conhecido por seus factóides (fatos criados com o intuito de aparecer na mídia), o prefeito assinou 90 decretos. O mais polêmico proibiu a divulgação de pesquisas no município. Os demais formaram uma espécie de pacote anti-Luiz Paulo Conde, ex-prefeito e afilhado político de Cesar. Cassou licenças para construção de apart-hotéis, baixou o preço do pedágio da Linha Amarela e trocou até placas de sinalização da lagoa Rodrigo de Freitas. Não satisfeito, mandou recolher mendigos das ruas e praças. Alguns foram parar até em hotéis por falta de espaço nos abrigos da prefeitura. Apesar de ter citado o ditador italiano Benito Mussolini no discurso de posse para condenar o nepotismo, Cesar nomeou cinco parentes: dois sobrinhos, uma irmã, uma cunhada e o marido de uma sobrinha. Seu vice, Marco Antônio Vales, fez o mesmo com o irmão Paulo César.

Ao atacar as pesquisas, principalmente as do Ibope por ter errado o resultado no Rio, ele antecipou uma discussão que está marcada para maio no Congresso, entre a Associação Nacional das Empresas de Pesquisas, políticos e meios de comunicação. Além disso, ressuscitou a polêmica sobre a credibilidade dos institutos devido às falhas do passado. Em 1998, a ida de Marta Suplicy (PT) para o segundo turno foi descartada pelas pesquisas, favorecendo, assim, o voto útil em Mário Covas (PSDB). Outro caso clássico de erro foi o Proconsult, nas eleições de 1982. O “sumiço” dos votos de Brizola (PDT), que venceu com uma maioria expressiva, foi atribuído a um fator chamado de “diferencial delta”.

O decreto de Cesar, que, segundo juristas, carece de amparo legal, obriga as pesquisas a passarem por uma auditoria de universidades públicas, sob pena de o instituto ter o alvará cassado. “Isso não aconteceu nem na época da ditadura”, reagiu Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, que ameaçou mudar a sede
da empresa para Búzios. Apesar dos erros, ele não acredita que
os institutos tenham perdido a credibilidade. O cientista político
Cesar Romero Jacob, professor da PUC-Rio, considera a medida política, mas alega que ela traz uma reflexão sobre as pesquisas.
“Os institutos carecem de mais transparência, pois muitos não divulgam quem financia nem quem solicita as pesquisas”, afirmou. Em meio ao tiroteio, o Instituto GPP – empresa contratada por Cesar e que previu sua vitória – preferiu não polemizar. “Ainda não li o decreto”, disse o sócio Marco Aurélio Guimarães. Mas alfinetou seu principal cliente: “Não imagino como fazer uma auditoria para cada pesquisa que sair.”