Os soldados alemães estão ansiosíssimos. Mas não exatamente com a possibilidade de serem enviados numa missão arriscada da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para conter algum conflito fora da Alemanha. O frenesi está sendo causado pelo sexo feminino. Na terça-feira 2, as Forças Armadas da Alemanha incorporaram mulheres, pela primeira vez em sua história. Com cabelos curtos e levemente maquiadas, as 244 (151 no Exército, 76 na Força Aérea e 17 na Marinha) voluntárias chegaram aos quartéis com suas mochilas. “Homens e mulheres terão de mudar suas atitudes. Não sei se será fácil”, disse a recruta Sylvia Sienbenhauer, ao chegar ao campo de Duelmen. Os soldados tiveram que fazer um curso intensivo para saber como lidar com as novas companheiras no Exército. “Não iríamos explicar para homens, adultos, o que é uma mulher. Mas sim como as situações no trabalho vão ser mudadas com a chegada dessas mulheres e como eles poderão lidar com os preconceitos”, disse o coronel Jürgen Weidemaier.

Entre uma das questões examinadas no curso foi a de que tanto mulheres como homens podem sofrer assédio sexual. Mas não foram esquecidas as pecularidades do “sexo frágil”. “E se a mulher chorar, o que fazer?” era um dos temas. E as instruções eram de que o soldado não poderia dar uma de papai consolando a recruta, nem se aproveitar dela nessa situação, passando-lhe uma cantada.

“Só espero que o ministro da Defesa, Rudolf Scharping, não coloque as soldadas em tanques cor-de-rosa”, ironizou Rainer Bruedele, do partido oposicionista Democratas Livres. A piadinha não foi à toa. A entrada das mulheres nas Forças Armadas não foi uma iniciativa do governo, mas sim uma determinação da Corte de Justiça Européia. Isso depois de uma engenheira elétrica, Tanja Kreil, ter ganho uma ação contra o Exército no tribunal europeu. Em 1996, ela tentou se alistar, mas foi rejeitada por ser mulher. Ao decidir a seu favor, a Corte acabou obrigando o governo alemão a mudar sua Constituição. Até então, as quatro mil mulheres militares trabalhavam como enfermeiras ou em bandas de música.

Se por um lado a Alemanha demorou a aceitar a presença feminina nos quartéis, agora elas estão liberadas não só para pegar em armas mas também para pilotar aviões e comandar submarinos, o que é muito raro em Forças Armadas de outros países, à exceção de Israel, onde as mulheres têm paridade com os homens. A França, o Reino Unido e a Dinamarca excluem mulheres das posições no front. Nos EUA, cerca de 92% dos postos militares estão abertos às soldadas, mas há restrições para que elas participem das unidades armadas. No Brasil, a entrada das mulheres nas Forças Armadas ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, em serviços de enfermagem. Há duas décadas, a Marinha tomou a iniciativa de abrir a carreira para o sexo feminino. Hoje, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista, admite estudos para que uma soldada tenha acesso ao curso de piloto. “A mulher já demonstrou que pode ser boa para combate”, declarou o brigadeiro a ISTOÉ. No Exército, a brasileira pode até chegar até a general.

Na Alemanha, será necessário pelo menos uma década até que elas alcancem as altas patentes. Enquanto isso, os soldados vão ter que se acostumar à concorrência feminina. “Eles vão ter de fazer muito mais do que fizeram até hoje. E a área em que pode haver problemas – sexo, naturalmente – pode ser também uma fonte de estímulo positivo”, afirmou o general Harald Kujat.

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