Riúva, boa companheira, alegre e animada espera encontrar companhia. É assim que Lígia (nome fictício), uma advogada paulistana de 48 anos, se define no anúncio que colocou em três sites de relacionamento, versões eletrônicas dos correios sentimentais. Engana-se quem a imagina uma viciada em internet. Muito pelo contrário. Ela só vê se há e-mails de pretendentes virtuais em sua caixa-postal eletrônica à noite, após a academia e o trabalho. Mensagens e fotos recebidas são analisadas por ela com auxílio dos três filhos, de 17 a 25 anos. “Pela internet, você se abre mais. É muito difícil você conhecer alguém interessante no seu dia-a-dia”, diz. O último relacionamento que Ligia teve, por exemplo, começou na internet há mais de dois anos, saltou da tela do PC para a vida real e terminou há seis meses.

Sites de relacionamento começaram a pipocar desde que a internet surgiu. Nessas páginas, o internauta coloca um anúncio em busca de companhia, responde a questionários sobre características físicas e preferências diversas, como signo, filmes e tipo de livros prediletos, e se comunica com os interessados por e-mail. O sucesso desses sites não é à toa: segundo a consultoria Value Partners, 79% dos internautas brasileiros são solteiros ou separados. Os descompromissados – e até mesmo casados, comuns nesse tipo de serviço – nunca tiveram tantas opções para buscar sua cara-metade. Novas páginas, com serviços gratuitos, incluem desde receitas culinárias para um jantar romântico e dicas de viagem até consultoria sexual (leia quadro).

Bom gosto – O recém-lançado www.feelings.com.br, por exemplo, é voltado para maiores de 30 anos. Com aspecto mais sério, dá desde dicas de vinhos e filmes até aulas de história da arte. A faixa etária do site atraiu a endocrinologista Rosana Velleca Lima, 42 anos, dois ex-maridos e dois filhos. Assim como Lígia, a médica também já teve um grande amor virtual que se tornou real. Namorou durante quatro meses um holandês que estava no Brasil. “Meus filhos diziam que eu tinha pirado”, lembra. “Não sou tímida nem retraída, muito menos viciada em internet”, afirma Rosana, que continua frequentadora assídua de sites de relacionamento. “O ciberespaço é um local de convívio social pela própria natureza e é apenas mais uma das inúmeras esferas de sociabilidade do cotidiano”, diz o antropólogo especializado em ciberespaço Mario Guimarães Jr.

Há sites de relacionamento para todos os gostos. O parperfeito.com.br fornece uma lista dos internautas que mais combinam com o usuário, após analisar as características de cada um e cruzá-las eletronicamente, serviço que o www.comovai.com.br faz mediante pagamento de uma taxa. Até o tradicional correio elegante ganhou uma versão virtual. Os sites www.enos2.com.br e www.fulano.com.br oferecem a possibilidade de o apaixonado se declarar ao seu amor platônico por meio de um e-mail anônimo. Na mensagem, o alvo da paixão é convidado a conhecer o site e, caso resolva se cadastrar e incluir o apaixonado em sua lista de paqueras virtuais, está acabada a dor de cotovelo. No www.poracaso.com.br, o que conta é a sorte. O internauta escreve uma mensagem que é enviada aleatoriamente para outros dez usuários do site. Depois, é torcer para receber respostas e usar a lábia para transformar o encontro virtual e eventual em um caso amoroso.

Perigos – É preciso, porém, tomar muito cuidado com os relacionamentos virtuais. “Nada ligado à internet é confiável”, diz o delegado Mauro Marcelo de Lima, responsável pelo setor de crimes pela internet da polícia de São Paulo. Ele investiga o caso de uma funcionária pública de Santos que trocou fotos sensuais com um homem que conheceu em um site de relacionamento e depois viu as imagens em uma página de prostituição.

É bom combinar os primeiros encontros cara a cara em espaços públicos, mas isso também não é garantia contra problemas. O engenheiro de telecomunicações André Luiz Neves da Silva, 32 anos, já passou por maus bocados em um shopping center de São Paulo enquanto tomava vinho com uma psicóloga que conhecera via internet. Já embriagada, a pretendente teve uma crise inesperada e lhe deu uma mordida na virilha e outra no braço. “Ela queria me deixar marcas”, diz o engenheiro. Tímido e bastante ocupado, Silva já namorou uma estudante de pedagogia que encontrou pela internet – ele jura que, durante o namoro, abandonou os sites de relacionamento. Atualmente solteiro, conhece cerca de uma garota nova pela web a cada duas semanas, com 15 minutos diários de navegação. “Mas na maioria das vezes não passa da amizade”, lamenta. 

Colaborou Clarisse Meireles

Sem medo de perguntar
“A internet facilita a liberação de questões inibidas”
Moacir Costa, sexólogo

Além da busca da cara-metade, sites de relacionamento também auxiliam o internauta a resolver questões sentimentais e sexuais. “Na internet, as pessoas conseguem ter anonimato, o que facilita a liberação de questões inibidas”, diz o psicoterapeuta Moacir Costa, consultor do www.feelings.com.br. “Muitos usuários não têm acesso a um consultório”, diz o especialista, que responde a dúvidas de usuários do site e dá dicas de como esquentar a relação sexual. O www.vaidarcerto.com.br oferece um serviço de consulta sentimental on line. Surpreendentemente, 80% das mensagens recebidas pelo site são de homens. “Eles estão preocupados com sua vida sentimental, mas não querem se expor, e encontraram um canal para isso”, explica o jornalista Jael Coaracy, criador do site. Separado depois de 21 anos de casamento, o executivo carioca Rogério Mattos, 53 anos (nome fictício), tomou coragem e mandou uma carta para o site há cerca de um mês. Ele se queixava do seu despreparo atual na arte da conquista e também nas tarefas práticas do dia-a-dia, que eram sempre cumpridas ou organizadas pela ex-mulher. “Ouvi de um desconhecido coisas que meus amigos não tinham coragem de me dizer”, diz o executivo. Apesar do nome otimista, o vaidarcerto não promete milagres. “Não apontamos caminhos, apenas tentamos jogar uma luz sobre os questionamentos de quem escreve”, diz Coaracy.