"Garrincha devia ter em torno de 25 centímetros.” A frase, incluída em Estrela solitária, a ótima biografia de Mané Garrincha escrita por Ruy Castro, informa que o poético driblador das pernas tortas era também dono de um vigor sexual raro, estruturado em proporções espetaculares. As filhas de Garrincha processaram o autor e a editora Companhia das Letras por danos morais. Venceram em primeira instância, mas viram a decisão ser revertida na segunda instância por um voto recheado de referências ousadas à anatomia de Mané, escrito pelo desembargador carioca João Wehbi Dib. “As asseverações de possuir um órgão sexual de 25 centímetros e de ser uma máquina de fazer sexo, antes de ser ofensivas, são elogiosas, malgrado custa crer que um alcoolista tenha tanta potência sexual. Contudo, tamanho e potência não se confundem. O sonho dos brasileiros é ter os dois”, afirmou, no voto seguido pelos outros dois colegas.

A revelação dos dotes de Garrincha, afirma o desembargador, deveria ser motivo de orgulho para a família. “Há que assinalar que ter membro sexual grande, pelo menos neste país, é motivo de orgulho, posto que significa masculinidade.” Dib chega a incluir comentários científicos. “A ciência médica aponta para a impotência, ainda mais que, quanto maior o pênis, maior fluxo de sangue necessitará para a total ereção, e principalmente, para permanecer ereto.” O escritor, segundo o juiz, em nenhum momento estabelece com precisão as dimensões da coisa. “Não consta que haja sido medido. Demais disso, na foto de capa está com as pernas abertas e não ostenta nenhum volume”, argumenta. “A despeito disso, como teve muitos filhos e casos amorosos, pode ter sido uma honrosa exceção, porquanto nada é absoluto e infalível na vida”, acrescenta. Garrincha teve 11 filhas e um menino.

Estrela solitária foi lançado em 1995. As partes mais contestadas foram o capítulo A máquina de fazer sexo e um trecho sobre o romance de Mané com a vedete Angelita Martinez. Em 1959, a censura proibiu a marchinha Mané Garrinha. “Angelita, ao cantá-la ao vivo, não podia impedir que os auditórios pervertessem o verso ‘Mané que nasceu em Pau Grande (distrito de Magé–RJ)’ para ‘…que nasceu de pau grande’. Para dizer a verdade, Angelita era a primeira a se atrapalhar com a letra e cantar essa versão – que, para ela, apenas fazia justiça a Garrincha. “Com toda a sua quilometragem masculina, nunca vira ninguém como ele”, escreveu Ruy. O verso seria inofensivo hoje. Mas na época era, “sem trocadilho, grosso demais”.

O escritor não pensava em revelar nada a respeito da força de Mané antes de escrever o livro. “Mas ex-namoradas e jogadores que viram aquilo tudo no vestiário chamaram atenção para o detalhe. Os homens demonstravam espanto. As mulheres, entusiasmo. Nunca vi brasileiro ficar ofendido por ser bem-dotado”, conta o escritor. “Não reparava no pênis do Garrincha. Cruz credo!”, defende-se o ex-lateral Nilton Santos. O ator e bem-dotado assumido Antônio Pitanga concorda com Ruy Castro. “Divulgar isso não deveria ofender ninguém. Os homens bafejados pela natureza, como eu e Garrincha, não devem fazer disso um instrumento de marketing”, analisa. “Cada um deve trabalhar com a ferramenta que tem. Se Deus te deu, você aproveita, mas isso não é nenhum passaporte”, completa o ator.

A cantora Elza Soares, que foi mulher do jogador por 15 anos, evita comentários íntimos. “As dimensões do pênis não tornam o homem mais ou menos digno”, completa. Há, no entanto, muitas estrelas solidárias ao escritor. Uma delas é a casseta Maria Paula. Ela não sabe dizer como reagiria diante de algo do porte de um Mané. “Olha, 25 centímetros é caso muito sério. Se fosse criado um índice Garrincha, o ideal seria 0,8 Garrincha. Até vintinho tá de bom tamanho.” O relator Dib e seus colegas negaram a indenização por danos morais, mas concederam à família 5% do valor de capa por danos materiais – o livro já vendeu 70 mil exemplares e o preço atual é R$ 42,50. “Vou recorrer”, promete o advogado das herdeiras, Luiz Eduardo Nobre. Batalha pesada à vista.