26/06/2015 - 20:00
COMPARAÇÃO
"A monarquia da Inglaterra é completamente diferente", diz a princesa Marina
A princesa Marina de Bourbon gosta de usar um colar de pérolas diferente para cada recepção a que comparece. Nos anos 50 e 60, ela viveu seus áureos tempos entre Paris e Saint Tropez ao lado do marido, o príncipe André de Bourbon Parme (1928 -2011), descendente dos Bourbon, uma das famílias mais tradicionais da França. Os Bourbon reinaram entre o final do século XVI e o início do século XIX, com exceção de períodos como o governado por Napoleão Bonaparte.
"Não gosto nem um pouco do presidente François Hollande. Ele só diz
mentiras, não sabe se comportar e tem um monte de namoradas"
Residente em Roinville, a uma hora de Paris, a aristocrata só vai a capital francesa por causa de sua boutique de presentes, com nome homônimo. Aos 80 anos, Marina de Boubon é uma princesa sem papas na língua, com toda elegância e cordialidade. Ela passou por São Paulo para comemorar os 20 anos da marca de seu perfume, Princess Marina de Bourbon. Na passagem pela capital paulista, visitou a Fundação Gol de Letra, do ex-jogador Raí, que adorou conhecer. Sem aparentar oito décadas de vida, Marina disse que o segredo de sua jovialidade é o bom humor. “Acima de tudo, sou uma pessoa feliz, corro para longe de tudo o que é ruim e me deixa aborrecida”, diz. “Felicidade é o meu segredo.”
"Também conheci Picasso. Não, ele não
flertou comigo. Acho que teve medo (risos)"
Como a sra. vê a França hoje?
Estou sempre esperando o melhor. Porque não pode ser pior. Acho que o momento econômico mais grave na Europa está superado. Temos que mentalizar.
Qual a opinião da sra. sobre o presidente François Hollande?
Não gosto nem um pouco dele. Ele só diz mentiras. Não é uma pessoa que fale a verdade. Na vida você não pode mentir. Tem que ser uma pessoa clara, espontânea e natural. E ele não é nada disso.
Houve algum episódio que sedimentou essa opinião?
Ele não tem respeito pelas pessoas em volta dele. Não sabe se comportar. Não tem a postura que um presidente e um político deveria ter. Na frente na rainha da Inglaterra, ele se sentou. E ele tem um monte de namoradas aqui e ali. Isso é vergonhoso. Se separou e parece que está agora voltando para a primeira mulher. Ele não é sério. Ele não é simples. É manipulador. Nada é verdadeiro em volta dele. Não é possível dirigir um país tendo esse posicionamento.
A sra. aposta numa eventual volta do ex-presidente Sarkozy?
Ele acha que vai voltar, mas eu acho que não. Por que o que ficou do seu legado é como se ele tivesse enganado a população. Então acho que Sarkozy não será eleito novamente.
E Carla Bruni?
É muito bela. Sim, ela era a melhor coisa do governo Sarkozy. Ele largou de uma outra para casar com ela. Como todos os homens.
Qual então é o presidente dos seus sonhos?
Eu espero que ele apareça. Ele ainda não se apresentou. Eu gostaria, para o futuro, que tivéssemos uma pessoa jovem na presidência.
A sra. é princesa na França, berço da República, pós-revolução francesa. Como vê a monarquia como sistema de governo?
É muito demodé. Não é mais moderno. Hoje a monarquia precisaria de muito dinheiro e não poderia sair por aí pegando dinheiro dos outros para voltar novamente ao poder. A monarquia já passou. Cada um deve viver a sua época.
E como a sra. avalia a monarquia inglesa e os 89 anos da rainha Elizabeth?
A monarquia na Inglaterra é completamente diferente. Lá nunca cortaram a cabeça de uma rainha. Não é fácil ser princesa ou fazer parte da monarquia num país onde uma rainha foi decapitada. Então o dia em que cortarem a cabeça de uma rainha lá, como na França, pode ser que eles pensem diferente. Mas monarquia na Inglaterra é bem interessante. Por favor, tome cuidado, não sugeri cortar nenhuma cabeça na Inglaterra. (risos)
Na monarquia inglesa de fato nunca houve nenhuma cabeça cortada, mas a história recente da família real inglesa sempre foi empolgante e polêmica. Como observa o momento de calmaria, com o Príncipe William e Kate Middleton tendo seus bebês?
Acho os ingleses muito educados. E eles se respeitam. A família se defende. Eles estão numa boa fase. O Príncipe George chegou, Charlotte chegou. Isso traz uma atmosfera de moralidade. E a jovem família real britânica é moderna. Gosto do jeito como a esposa do Príncipe William (Kate Middleton) se movimenta. Faz coisas. Ela é tônica. Eles estão dentro do contexto de uma época.
Há uma nova era de plebéias se tornando princesas, com Kate Midletton. Para a senhora, como foi passar de plebéia a princesa nos anos 50?
Para mim foi tudo bem porque a minha sogra me adorava. Foi tranqüila a minha transição e mesmo a aceitação ao fato de eu não pertencer à realeza. Minha sogra era francesa, mas descendia da família real da Dinamarca. E todas as coroas escandinavas são muito modernas. Havia uma aceitação muito melhor aos plebeus do que em outras coroas. Meu marido era também príncipe da Dinamarca porque herdou o título da mãe dele.
Diana foi uma princesa que sofreu com a sogra. Como a senhora a enxergava?
Acho que a rainha amava demais o filho. E por isso, talvez, não conseguia amar a nora. Diana não foi amada ao nível que deveria ter sido, pelo tipo de pessoa que ela era.
A sra. conhece um pouco sobre a política brasileira e a presidente Dilma?
Não. Tem tanta coisa bonita no Brasil que política para mim não faz diferença. Descobri há oito dias que o País tinha uma presidente mulher. Pesquisei na internet antes de viajar. Como não vinha há 10 anos, quis me informar um pouquinho. Sabia que Lula era um autodidata.
Quando volta ao Brasil?
Volto ao Brasil no lançamento do meu próximo perfume. Sigo as fragrâncias.
Tem filhos?
Duas filhas e um filho. Minha filha mais velha é designer. Desenha louças. Minha outra filha antes trabalhava, agora não mais. E meu filho trabalha com vinhos e licores. E tenho seis netos, cinco meninas e um adorável menino. Tem 18 anos e é fotógrafo. Tenho uma neta de 10 anos, que ama perfumes e quer ser cantora.
Conheceu Raí?
Tudo é bom nele. As mãos deles são perfeitas. A voz dele. Ele é excepcional. E as coisas que ele faz são espetaculares. E é lindo! Não lembrava dele jogando na França. Agora vou começar a ver mais futebol.
Do que gosta?
Gosto muito de dança. Dançava até 16 anos. Não era balé. Não passei na prova do conservatório.
Conheceu o artista e escritor surrealista Jean Cocteau?
Éramos amigos. Ele emprestou sua capela na França para o meu casamento. Nunca ninguém havia se casado ali, na beira da praia, na Riviera Francesa. Ele também a decorou. Era uma capela de pescadores.
Como nasceu essa amizade?
Nos conhecemos em um jantar. Eu ainda era solteira.
Como a sra. conheceu seu marido?
Em St. Tropez. Nos olhamos na praia e de noite fomos dançar. Daí para frente não nos separamos mais. Ficamos casados 50 anos. Quando nos conhecemos, eu andava de scooter. E tinha que voltar para Paris no dia seguinte, para abrir minha loja de decoração. Dois dias depois, ele estava na porta da minha loja. Eu não sabia que ele era príncipe!
Qual foi sua reação?
Ele me falou que a única opinião que importava sobre o casamento era a da mãe. Se ela dissesse não, ele não casaria. Mas a princesa (Margreth da Dinamarca) aprovou.
O que seus pais faziam?
Meu pai era militar. Minha mãe tinha uma perfumaria.
Qual foi a reação dos seus pais?
Meu pai disse: “Mas ele fuma e não fez o serviço militar”. Meus pais eram divorciados e minha mãe se casou novamente com um jogador de rugby basco.
Sua família era rica?
Muito burgueses.
Antes de conhecer o príncipe, a sra. era muito namoradeira?
Um pouquinho. Trocava muito rápido. Tenho muitas lembranças disso. Não vou dizer os nomes, mas todos já morreram. Quando vou dormir, costumo contar os amigos que já morreram.
Houve algum protocolo para sua aprovação como princesa?
Os Bourbons se juntaram no Plaza Atenné em Paris. Eu e André estávamos numa suíte e a família toda na outra suíte reunida para aprovar o casamento. Meu marido dizia: se eles não aprovarem, não casamos e ficamos juntos. Mas um membro da família foi nos comunicar que estava aprovado.
O que é melhor em ser princesa?
Uma das melhores coisas é estar sempre ao lado do anfitrião. Mas ser princesa, podendo trabalhar, é muito importante para mim. Trabalho desde os 18 anos. Se eu fosse uma princesa de antigamente não poderia fazer isso.
E o lado difícil?
Tenho que estar sempre à altura do que as pessoas esperam de mim. Nunca posso decepcionar.
Teve outros amigos notáveis?
Conheci Simone de Beauvoir, por exemplo. Ela falava tudo francamente e por isso era interessante. Mas só falava dela e das mulheres em geral. Também conheci Picasso.
Ele não flertou com a sra.?
Não. Acho que teve medo. (risos)