Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo estão presos. Ambos presidem dois grandes conglomerados empresariais, os grupos Odebrecht e Andrade Gutierrez, que, por sua vez, são os principais doadores das campanhas políticas nacionais. Antes deles, outra leva de empreiteiros havia passado uma temporada em Curitiba. Em muitos casos, porque suas doações registradas e legais passaram a ser interpretadas pela força-tarefa que conduz a Lava Jato como propina, ou seja, como contrapartida por favores recebidos em contratos de estatais.

Essa tese ainda promete dar muito pano pra manga, será amplamente debatida nos tribunais superiores, mas a frase emblemática de Paulo Roberto Costa, dizendo que ‘não há almoço grátis’ quando um empresário financia determinado político ou partido, está gravada na memória. Por isso mesmo, ainda que a reforma política do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tenha consagrado o financiamento privado de campanhas políticas e a ação da Ordem dos Advogados do Brasil contra doações de empresas tenha sido engavetada pelo ministro Gilmar Mendes, ainda há uma esperança: a de que os próprios empresários reajam e se levantem contra a farra vigente no País.

Entre os alvos da Lava Jato, já há exemplos de empresas que começam a mudar seus estatutos para vedar toda e qualquer forma de apoio a partidos políticos ou candidatos. Se essa atitude vier a significar qualquer tipo de discriminação em processos concorrenciais, paciência. Sempre haverá espaço, dentro da lei, para contestar licitações dirigidas e cartelizadas. Caso essa postura seja seguida por todas as grandes empresas, o modelo atual implodirá pela simples falta de doadores. E ninguém imagine que os empresários migrarão do caixa um para o caixa dois – depois de Curitiba, o risco se tornou alto demais.

Entre a força tarefa da Lava Jato, muitos demonstram bagagem teórica e também o desejo latente de mudar o modelo político e empresarial brasileiro. O procurador Carlos Fernando Lima já manifestou críticas contra o “capitalismo de compadrio” que reina no País. O juiz Sergio Moro também afirmou, em suas decisões, que o dinheiro privado não pode distorcer o sistema político-partidário. 

Na teoria, ambos estão certos. No mundo real, não existe capitalismo puro em lugar nenhum do mundo e há sempre uma certa dose de influência política nas decisões empresariais, que gera essa mistura explosiva entre o público e o privado. Mas há uma medida capaz de aproximar a teoria da realidade: o fim das doações privadas. Quando nenhuma empresa puder financiar nenhum político, tudo terá mudado no País. 

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