Nomeada pela presidente Dilma como presidente do Conselho Público Olímpico, que supervisiona os preparativos para os jogos de 2016 no Rio, Luiza Helena Trajano falou com exclusividade à coluna, em evento com 300 executivas do grupo Mulheres do Brasil. “Pensei muito e aceitei. Nem avisei meus filhos porque eles iam ser contra. Assumi essa coordenação porque estava no momento em que eu tinha que assumir alguma coisa no Brasil”, explicou a empresária, dona do Magazine Luiza. “Nunca mais teremos a chance de mostrar uma abertura de Olimpíada. Está maravilhosa, mas não posso contar. Só eu tô sabendo e mais três pessoas.”, sorri Luiza. “Eu falei para o Nuzman: ‘To trabalhando demais, então eu quero ver.’” Luiza já era vice-presidente do Conselho Rio 2016 há três anos, comandado por Carlos Arhur Nuzman., presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. “Vou acumular essa outra função: vou ser presidente do Conselho Público Olímpico, que nada mais é do que juntar todo mundo para organizar as coisas.”

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ISTOÉ – Por que decidiu aceitar o cargo de autoridade olímpica?
Luiza Helena Trajano –
É um cargo que eu já estava fazendo de fato. De direito ia ser melhor. Faz três anos que eu acompanho o cronograma. Estou no Comitê Olímpico há 3 anos, como vice-presidente, gratuitamente. Sou voluntária. O Nuzman me procurou: “Luiza, quero uma mulher no conselho e gostaria que você fosse.” E eu pensei: nunca mais vou viver uma experiência dessas. Lá, não tenho nada a ver com esporte, mas com a montagem da estrutura, com gestão. É uma coisa que não dá para imaginar. Tem até a ambulância do cavalo. O esporte é uma grande coisa para a educação do País. É o maior espetáculo do mundo. E haverá um legado. Já temos 210 países inscritos. É nessa estrutura que ajudo. Nem sabia que a Autoridade Pública era importante assim, ligando os governos e o Comitê Olímpico para fazer acontecer. Estava fazendo esse papel sem saber que existia.

ISTOÉ – O que a sra. acredita que vai ser o maior desafio?
Luiza –
O que está mais difícil é a comunicação do que representa uma Olimpíada, do que é o Rio 2016, do que é COB, do que é Autoridade Olímpica. Isso não tem nada a ver com verba. Vai custar R$ 8 bilhões a montagem das Olimpíadas. E não tem um ‘cruzeiro’ do governo. Só que ninguém sabe. É tudo patrocínio. As obras estão em dia, a gente já arrumou os patrocínios.

ISTOÉ – As obras estão em dia?
Luiza –
Estão. O cronograma não é mal. Vamos fazer os primeiros testes. Londres teve mais problemas do que nós. Não estou falando de Metro, de obras públicas. Não são obras do governo, foram prédios construídos pelas construtoras que venderam e o comitê olímpico está pagando aluguel até 2017. Depois nos devolvemos e vai virar apartamento. Nunca houve um quarto para dois atletas. Tem outro legado, que vai ser uma escola.

ISTOÉ – Como a sra. lidará com as dificuldades no ambiente em que o Brasil vive?
Luiza –
Não sofro por antecipação. Lido com meu propósito. Meu propósito é ajudar o Brasil, eu não tenho outro. Não vou trabalhar com dinheiro. Se fosse, nem iria. Só junto os órgãos e cobro o cronograma da Carta de Intenções Olímpica. Já juntei todo mundo na mesma sala, a presidente, o prefeito, o governador. Só que agora eu tenho um papel oficial.

ISTOÉ – Está pronta para eventuais críticas?
Luiza –
Você nunca tá pronta. Mas a minha intenção é tão forte e maior do que qualquer coisa que vier até mim, eu vou saber. O Magazine Luiza não vai ganhar nada com isso. Eu não vou ganhar nada.

ISTOÉ – A sra. não teme ficar associada ao momento duro que o governo enfrenta?
Luiza–
Posso até achar que podem associar, mas eu vou ter medo de enfrentar uma coisa que é para o Brasil? Só porque vou ficar associada? Está na hora de alguém assumir algumas coisas. Porque senão ninguém vai assumir nada, porque fica com medo de tudo. Agora, medo você tem? Tenho. Mas, entre ter medo e assumir, eu pensei bem e assumi. 

Foto: Iara Morselli/ Estadão Conteúdo