Filho de analfabetos do interior de São Paulo, Júlio Mesquita (1862-1927) começou a vida com o orgulho de ser o único integrante da família a conhecer as letras. Terminou seus dias em um quarto modesto de hotel na cidade natal, Campinas, tendo transformado um periódico provinciano num modelo de procedimentos e conduta que balizam a grande imprensa brasileira desde então até os nossos dias, além de ter erguido uma empresa que durante quatro décadas cresceu 10,8% ao ano.

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O jornalista Jorge Caldeira pesquisou, escreveu e agora lança por
sua própria editora, a Mameluco, a biografia "Julio Mesquita e Seu Tempo"

O que ocorreu entre os dois pontos dessa curva extraordinária o jornalista Jorge Caldeira conta nos quatro volumes que compõem a caixa “Júlio Mesquita e Seu Tempo, resultado de 15 anos de pesquisa sobre a vida e o trabalho do fundador do jornal “O Estado de S. Paulo”.

É bastante razoável pensar que as transformações articuladas pelo patriarca da família Mesquita decorreram da evolução histórica e tecnológica brasileira. Afinal, ele viu chegar o telégrafo e a eletricidade e deixou com sua morte uma indústria de informação de alcance nacional e influência planetária. “Vilarejos se tornaram metrópoles, o trabalho artesanal se misturou com o da indústria, a cultura oral, com o Modernismo”, diz o autor sobre o período coberto por sua biografia. Um dos grandes méritos do levantamento de Caldeira, porém, é mostrar que menos pela conformidade com sua época e mais pelos momentos em se colocou contra a corrente é que o jornalista ajudou a escrever grandes capítulos da história brasileira do século XX. Caso do episódio do massacre em Canudos, que entraria para os livros como uma ação anti-republicana não fosse a decisão do jornal de mandar um repórter para o interior baiano, Euclides da Cunha, cuja reportagem depois republicou no célebre “Os Sertões”. O episódio, narrado no segundo livro da coleção, demonstra como uma reportagem no século XIX era capaz de redefinir o mapa político nacional e bater recorde de vendas na banca: 18 mil exemplares esgotados no primeiro dos 22 textos que o jornal veiculou entre 1897 e 1898.

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Vida de Júlio Mesquita se confunde coma modernização a imprensa brasileira

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Foto: FELIPE GABRIEL