Livre, leve e solta. É assim que está Marta Suplicy. A ex-prefeita de São Paulo não ganhou uma ruga sequer depois de passar a semana respondendo às acusações de que a prefeitura, em sua gestão, fez um aditivo a um empréstimo do programa Reluz (para a troca de lâmpadas de alto consumo de energia por outras 35% mais econômicas) sem solicitar autorização ao Ministério da Fazenda, um ato obrigatório, já que São Paulo havia ultrapassado seu limite de endividamento. A oposição deitou e rolou, dizendo que a Medida Provisória nº 237, de janeiro, fora editada apenas para livrar Marta de uma boa dor de cabeça por ter descumprido a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Apesar de todo o bafafá, a ex-prefeita não parece muito preocupada com outra coisa senão em “saber o que se passa na cabeça do cidadão do interior em relação ao governo Geraldo Alckmin.” Para isso, na última semana, viajou pelo Vale do Paraíba, e pretende continuar em peregrinação por mais quatro meses. Marta ainda nega que pretende ser candidata em 2006, mas agora nem pensa em sair de sua terra natal, cujos limites se ampliaram nos últimos meses: “Não sou apenas paulistana, sou paulista.” Embora o senador Aloizio Mercadante e o deputado João Paulo Cunha sejam fortes concorrentes, nenhum deles possui algo precioso, que Marta tem de sobra: tempo.

ISTOÉ – Esta semana o governo foi acusado de editar uma MP só para favorecer a sra. no caso do empréstimo do programa Reluz…
Marta Suplicy –
Nós avaliamos que estaríamos fazendo um aditivo, e não um novo empréstimo. O que fizemos foi comunicar o ato ao Ministério da Fazenda, coisa que nenhuma outra prefeitura fez. O ministro Palocci fez o que a lei manda e enviou um ofício ao Senado comunicando o que a Prefeitura de São Paulo tinha feito e que este ato, dentro de uma certa compreensão, era irregular. Mas, em seguida, o ministro fez a MP, porque se verificou que Salvador, Rio de Janeiro, Campinas, Guarujá e outras cidades também estavam na mesma situação. O ministro avaliou que seria contraproducente deixar todas estas prefeituras em situação irregular.

ISTOÉ – Isso pode prejudicar sua candidatura ao governo estadual em 2006?
Marta –
Eu não me lancei candidata. O partido tem candidatos muito interessantes: Mercadante, João Paulo, Dirceu e Palocci. Claro que não tem por que eu me pôr para fora. Mas também não posso colocar a carroça na frente do boi. Acho muito cedo.

ISTOÉ – E a viagem que a sra. fez pelo Estado?
Marta –
Falei com José Genoino, presidente do PT, que estaria à disposição do partido para visitar meu Estado, porque sou paulista, e não apenas paulistana. Disse a ele que gostaria de avaliar a situação das cidades e saber a visão que se tem do atual governo. Falei com Aloizio e João Paulo que devemos manter a unidade e eles concordaram. Achamos que é preciso construir juntos este diagnóstico do Estado. Lá na frente vamos ver como a situação se resolve. Não precisamos resolver hoje. Temos que nos empenhar para fazer um bom palanque para o Lula e ter uma boa candidatura ao governo. O tempo vai dizer que candidatura será esta.

ISTOÉ – É uma tentativa de neutralizar as críticas do prefeito José Serra a sua gestão?
Marta –
A estratégia do prefeito é desconstruir um governo que perdeu a eleição, mas teve 49% de ótimo e bom. O que tenho que levar para o interior, após esta campanha de difamação, é que fizemos um governo inovador, cumprimos a LRF e criamos paradigmas de administração pública. Ele precisa de uma desculpa para não fazer o que prometeu. Ele dizia: “Prometo continuar, melhorar, ampliar o que ela está fazendo e ainda acabar com as taxas.” Na primeira oportunidade que teve para derrubar a taxa da luz, não derrubou. Também não cumpriu o compromisso de não aumentar a passagem de ônibus.

ISTOÉ – Ele diz que a prefeitura não tem caixa para bancar o bilhete único.
Marta –
Ele diminuiu o Orçamento de R$ 350 milhões para R$ 220 milhões e cobrou a diferença do usuário. Eu nunca faria isso, porque acho que é preciso subsidiar o transporte público. É a melhor forma de fazer distribuição de renda numa cidade deste porte. Ele diz que está tudo parado porque eu não deixei dinheiro, como na educação. Como não? Deixei 31% do dinheiro de São Paulo para a educação. Tudo não passa de uma estratégia para manchar minha imagem.

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ISTOÉ – Por causa da disputa de 2006?
Marta –
Evidente, porque ninguém bate em cachorro morto. Temos um
supergoverno para mostrar.

ISTOÉ – O que a sra. observou nesta viagem?
Marta –
Que vamos precisar de propostas concretas para os enormes fracassos desta gestão, dentre eles a maior mancha, que é a Febem. Eles tiveram 12 anos para reestruturar a Febem e hoje está pior do que antes. Precisamos pensar também a segurança, porque os números são altos. E os dados disponíveis não correspondem à realidade, porque eles maquiaram. Aliás, esta semana foi assaltado um prédio no Campo Belo, em São Paulo, por homens com metralhadora. Quer dizer, isso é Chicago!

ISTOÉ – A que a sra. atribui a derrota do governo Alckmin na Assembléia de São Paulo?
Marta –
É resultado de uma brecha criada pelo próprio governador, por esta forma antidemocrática de agir. Há dez anos não tem uma CPI. Havia uma insatisfação enorme dos deputados. Foi a forma de o governador lidar com a classe política que levou a esta rebelião.

ISTOÉ – A sra. não faria uma analogia com a derrota do governo Lula com Luiz Eduardo Greenhalgh na Câmara?
Marta –
Não. Gozado, eu não acho. Acho que cada derrota teve uma história própria. A de Greenhalgh passa pela cisão que tivemos dentro do partido, quando o Virgílio Guimarães lançou-se candidato.

ISTOÉ – Se a sra. for candidata ao governo, quem seria um bom adversário do PSDB para enfrentar?
Marta –
O partido não está trabalhando com adversários no momento.


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