O pessoal do agito, fiel frequentador de Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro, estava órfão de um point. Com o fechamento das tradicionais ilhas do Arroz e do Ouriço, tanto os cariocas como os paulistas sofriam por não ter onde exibir seus barcos, lanchas e iates luxuosos. A abertura ao público da Chivas Island, em 27 de dezembro, no mesmo lugar onde no ano passado brilhou a ilha de Mandala, mudou o cenário da costa verde. Faça chuva ou sol, a partir das 16h um aglomerado de embarcações ancora na praia, no píer, enfim, onde tiver um espaço, e a diversão começa. Dois ou três drinques depois, ninguém resiste a uma aula de bicicleta ao ar livre ou a uns passos de salsa na areia.

Localizada na altura do km 101 da estrada Rio–Santos, a Chivas Island foi arrendada pela Seagram do Brasil, ligada a um dos maiores fabricantes de bebidas do mundo. Nos próximos três anos, ela será dona de 60% dos paradisíacos 30 mil metros quadrados de terra em alto-mar. Os outros 40% pertencem a empresários cariocas que irão compartilhar a gestão do empreendimento. A Seagram investiu US$ 1 milhão e seu presidente, Edmundo Bontempo, acredita que o sucesso será garantido. A Chivas Island tem piscina natural, restaurantes, área de massagem, lounge, trilhas ecológicas e boate, entre outras atrações. “Os cariocas entram com a experiência e nós, paulistas, com a administração”, diz ele.

Como a reforma foi feita às pressas, em menos de 30 dias, para o réveillon, os visitantes tiveram que enfrentar alguns problemas, como falta de estrutura para ancorar os barcos e de pessoal para ajudar nas marinas. A carioca Ângela Marcondes, conhecedora de Angra, protestou: “No dia 30 de dezembro, fomos ao porto Marina para pegar os barcos que levam os turistas até a boate e ninguém nos esperava. Diante de tanta confusão, desistimos.” Apesar da desorganização, típica de um espaço estreante, Ângela e sua amiga Jaqueline Larica pretendem voltar. Pelo menos durante o dia, quando Ângela pega a sua flamejante lancha forrada de tapete branco, pára num lugar bem vistoso para que todos na ilha possam vê-la e confraterniza com dezenas de amigos. As pessoas se encontram ali para se divertir, apreciar o cenário deslumbrante e fofocar. Basta um olhar atento para identificar a origem dos convidados.

Tribos – Os cariocas gostam de pedir convites, muitos descontos e estão sempre com o copo na mão. As meninas do Rio usam minibiquínis, tatuagens, têm pele bronzeada, abusam de tamancões altos e ostentam um sorriso sensual nos lábios. Os paulistas, branquelos no começo da temporada, são tímidos ao desembarcar de seus iates sofisticados e não choram na hora de pagar a conta salgada. Nada custa menos de R$ 12, nem uma mísera porção de pastéis. As mulheres paulistas usam maiôs ou duas peças menos ousados, abusam da maquiagem, jóias, chapéus, sandálias baixas de grife e custam a tirar as cangas e mostrar o corpo. Há quem rejeite as duas tribos, como o músico e apresentador do programa Quiz da MTV, Rafael Ramos, e seu amigo e baterista Alexandre Griva. “Gostei mesmo foi de tomar o drinque Royale, à base de uísque e suco de maçã. No mais, essa ilha é legal só para os playboyzinhos de jet ski”, ataca Rafael. Apesar das diferenças, na ilha todos acabam se entrosando. Na volta da boate, que comporta quase 1.500 pessoas, a briga no cais é certa e a turma do “deixa disso” precisa entrar em ação para organizar a fila. Mas, durante o dia, todos se entendem. O professor da Marinha Álvaro Pires conhece Angra com a palma da mão e acredita que todos os points sempre foram assim: desorganizados e alegres. No final, sempre dá certo. “É preciso alto-astral e paciência”, avisa. E isso os convidados têm de sobra. As aulas de dança de salão sempre terminam em carnaval na areia. Se continuar assim, a Chivas Island promete. A idéia de organizar esse evento festivo – a ilha abre de quinta a domingo e paga-se apenas o que for consumido – surgiu para reavivar o espírito do uísque Chivas Regall que estava perdendo espaço no Brasil para o rival Johnny Walker, entre a turma animada. Se os concorrentes reagirem, a famosa guerra das cervejas pode ser ofuscada pela batalha dos destilados. Quem estiver sóbrio, verá.