E m todo o mundo é comum a atuação de empresas de consultoria na elaboração de grandes negócios, na aprovação de projetos e até na prospecção de empreendimentos transnacionais. Não é raro, nas mais diversas áreas, que profissionais experientes que se destacaram no exercício de suas atividades e conquistaram o status de portadores de “notório saber” sejam em determinado momento da carreira levados ao posto de consultor. No Brasil isso também acontece. O problema é que, por aqui, as consultorias têm mais de um significado e nem sempre se referem a atividades republicanas. Em Brasília, não é novidade, por exemplo, que, na falta de regulamentação para a ação dos lobistas os mais diversos grupos de interesses acabem recorrendo a “consultores” para o “trabalho de convencimento” de parlamentares e outras autoridades. Nos últimos anos, porém, segundo relato feito à ISTOÉ por um dos procuradores da Operação Lava Jato, começou a se multiplicar no País um tipo muito particular de “consultor”. Uma espécie de intermediário entre o público e o privado cuja principal missão é enriquecer o privado em detrimento do público.As investigações da Operação Lava Jato identificaram na atuação de dois petistas ilustres os detalhes sobre o funcionamento de determinadas operações que carregam o rótulo de consultorias apenas para dar ares de legalidade a um série de atitudes descritas em nossa legislação como tráfico de influência, lavagem de dinheiro, corrupção, formação de quadrilha etc. “É muito claro que o ex-ministro Antônio Palocci usou muito mais seu notório trânsito do que seu notório saber”, diz o procurador. “E o mesmo serve para o ex-ministro José Dirceu.”

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CONDENADOS E RICOS
Mesmo nas garras da Justiça, Dirceu e Palocci mantiveram trânsito
entre ministérios e faturaram milhões com suas consultorias

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Entre 2007 e 2010, enquanto Palocci exerceu o mandato de deputado federal, sua consultoria faturou extraordinários R$ 35 milhões e amealhou cerca de 60 clientes dos mais diversos setores. Quando ocupou o Ministério da Fazenda, Palocci foi apontado como um ministro competente. Caiu ao violar o sigilo bancário de um caseiro e o Código Penal. No PT continuou forte po­liti­ca­mente, comandou a cam­panha de Dilma em 2010 e voltou ao governo como ministro da Casa Civil. Caiu quando seu enriquecimento foi desfraldado e sua con­sul­toria exposta à luz. Con­tinuou forte politi­camente, com bom trânsito nos ministérios e entre parla­mentares aliados. E, por isso, um consultor bem sucedido. Com Zé Dirceu o enredo é o mesmo. Depois de con­de­na­do como chefe da qua­dri­lha do mensalão, sua consultoria faturou R$ 39 milhões. Os dois casos explicam, segundo o procurador, por que nas gestões do PT esse tipo de “consultor” vem se proliferando no Brasil: “O fato de o partido continuar a prestigiar politicamente os líderes acusados e con­denados por práticas corruptas assegura a eles o trânsito privilegiado entre os que efetivamente têm poder de decisão para a realização de negócios que tiram dinheiro público para enriquecimentos ilícitos.

Os responsáveis pela Operação Lava Jato sabem que os clientes de Palocci e Dirceu buscaram “consultores” que navegassem com tranquilidade nas águas governamentais. E isso não configura necessariamente um crime. O problema é que os indícios até agora levantados mostram que essas consultorias podem ter ido além do bom trânsito e servido de fechada para a canalização de propinas. Nesse caso é crime e dá cadeia.

Mario Simas Filho é diretor de redação da revista ISTOÉ 

E m todo o mundo é comum a atuação de empresas de consultoria na elaboração de grandes negócios, na aprovação de projetos e até na prospecção de empreendimentos transnacionais. Não é raro, nas mais diversas áreas, que profissionais experientes que se destacaram no exercício de suas atividades e conquistaram o status de portadores de “notório saber” sejam em determinado momento da carreira levados ao posto de consultor. No Brasil isso também acontece. O problema é que, por aqui, as consultorias têm mais de um significado e nem sempre se referem a atividades republicanas. Em Brasília, não é novidade, por exemplo, que, na falta de regulamentação para a ação dos lobistas os mais diversos grupos de interesses acabem recorrendo a “consultores” para o “trabalho de convencimento” de parlamentares e outras autoridades. Nos últimos anos, porém, segundo relato feito à ISTOÉ por um dos procuradores da Operação Lava Jato, começou a se multiplicar no País um tipo muito particular de “consultor”. Uma espécie de intermediário entre o público e o privado cuja principal missão é enriquecer o privado em detrimento do público.As investigações da Operação Lava Jato identificaram na atuação de dois petistas ilustres os detalhes sobre o funcionamento de determinadas operações que carregam o rótulo de consultorias apenas para dar ares de legalidade a um série de atitudes descritas em nossa legislação como tráfico de influência, lavagem de dinheiro, corrupção, formação de quadrilha etc. “É muito claro que o ex-ministro Antônio Palocci usou muito mais seu notório trânsito do que seu notório saber”, diz o procurador. “E o mesmo serve para o ex-ministro José Dirceu.”

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CONDENADOS E RICOS
Mesmo nas garras da Justiça, Dirceu e Palocci mantiveram trânsito
entre ministérios e faturaram milhões com suas consultorias

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Entre 2007 e 2010, enquanto Palocci exerceu o mandato de deputado federal, sua consultoria faturou extraordinários R$ 35 milhões e amealhou cerca de 60 clientes dos mais diversos setores. Quando ocupou o Ministério da Fazenda, Palocci foi apontado como um ministro competente. Caiu ao violar o sigilo bancário de um caseiro e o Código Penal. No PT continuou forte po­liti­ca­mente, comandou a cam­panha de Dilma em 2010 e voltou ao governo como ministro da Casa Civil. Caiu quando seu enriquecimento foi desfraldado e sua con­sul­toria exposta à luz. Con­tinuou forte politi­camente, com bom trânsito nos ministérios e entre parla­mentares aliados. E, por isso, um consultor bem sucedido. Com Zé Dirceu o enredo é o mesmo. Depois de con­de­na­do como chefe da qua­dri­lha do mensalão, sua consultoria faturou R$ 39 milhões. Os dois casos explicam, segundo o procurador, por que nas gestões do PT esse tipo de “consultor” vem se proliferando no Brasil: “O fato de o partido continuar a prestigiar politicamente os líderes acusados e con­denados por práticas corruptas assegura a eles o trânsito privilegiado entre os que efetivamente têm poder de decisão para a realização de negócios que tiram dinheiro público para enriquecimentos ilícitos.

Os responsáveis pela Operação Lava Jato sabem que os clientes de Palocci e Dirceu buscaram “consultores” que navegassem com tranquilidade nas águas governamentais. E isso não configura necessariamente um crime. O problema é que os indícios até agora levantados mostram que essas consultorias podem ter ido além do bom trânsito e servido de fechada para a canalização de propinas. Nesse caso é crime e dá cadeia.

Mario Simas Filho é diretor de redação da revista ISTOÉ