Ao ser convidado a curar a 4ª edição do programa Arquitetura Brasileira, do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, Nelson Brissac partiu da premissa de que a metrópole contemporânea “não se dá a ver”. “A grande cidade resiste às tentativas de mapeamento, aos dispositivos de observação”, escreve o curador no texto de apresentação “Ver do Meio”, em cartaz até 12 de julho. Para abranger o que acredita ser a característica mais marcante da vida nas cidades hoje – estar sempre no seu interior, no meio das coisas e dos acontecimentos, buscando estabelecer distâncias e aproximações entre elas –, Brissac reuniu os fotógrafos Mauro Restiffe, Arnaldo Pappalardo e Pio Figueiroa. A exposição relê a morfologia irregular e obtusa da paisagem urbana de São Paulo criando vizinhanças, justaposições e contrastes entre as visões dos três fotógrafos.

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Assim como a metrópole contemporânea está dividida em bairros, não em tribos ou guetos, a curadoria divide o espaço expositivo em zonas, mas não em nichos. Os três fotógrafos compartilham assim as três salas da mostra, se encontrando ou resvalando em esquinas, becos ou avenidas. Em sua opção conceitual pela fotografia analógica em preto e branco, Restiffe vai em busca de uma São Paulo concreta, descampada, erma, desolada, ao mesmo tempo central e periférica. Sempre granulada, com aura de outro tempo. Os mesmos locais, vistos por Pappalardo, tem reverberação oposta: habitada, calorosa, ativa. E Figueiroa humaniza sensivelmente essa paisagem, colocando ênfase nos brilhos de olhares e na passagem de transeuntes.

A São Paulo de Restiffe, Figueiroa e Pappalardo ainda reflete a dura poesia concreta das esquinas da Sampa de Caetano Veloso. Preserva também algo da deselegância discreta de suas meninas. Mas está sempre ampliando tentáculos e se avizinhando cada vez mais ao Rio de Janeiro de Fernanda Abreu, o eterno purgatório da beleza e do caos. PA