Oito meses depois de reeleita com mais de 54 milhões de votos, Dilma Rousseff se tornou uma das presidentes mais impopulares da história recente do País. Os conceitos dos brasileiros sobre seu governo despencaram desde a abertura das urnas, quando ficaram evidentes as contradições entre o discurso de campanha e a realidade. A fragilidade das contas públicas, a deterioração dos indicadores econômicos – que deverá levar o PIB de 2015 à maior retração em 25 anos – e os desdobramentos das investigações da Operação Lava Jato derrubaram ainda mais os índices de avaliação do desempenho da presidente. Há alguns dias, chegaram ao Palácio do Planalto pesquisas internas que, pela primeira vez, mostram Dilma com menos de 10% de aprovação (confira no quadro o histórico da queda de popularidade). No final da semana passada, eram esperadas outras pesquisas com números igualmente negativos. As péssimas notícias acenderam o sinal de alerta no grupo mais próximo da presidente, especialmente os encarregados de zelar por sua imagem. Em consequência, como sempre, os palacianos apostam em jogadas de marketing.

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É PRECISO PEDALAR
Dilma anda de bicicleta em Brasília: na cabeça dos assessores, esse tipo
de iniciativa torna a presidente mais próxima da população

A mais evidente tentativa de promoção da figura presidencial foi posta em prática no início da última semana. Desde o sábado (30), Dilma se deixou fotografar enquanto passeava de bicicleta nos arredores do Palácio da Alvorada, a residência oficial. Em trajes esportivos, capacete, óculos e acompanhada de seguranças, ela pedalou um modelo importado. Em aparições recentes, Dilma chamou a atenção para a importância dos exercícios físicos associados à dieta alimentar. Ela própria perdeu cerca de 15 quilos desde o fim da campanha eleitoral por seguir as orientações do médico argentino Maximo Ravenna. Na cabeça dos marqueteiros, esse tipo de iniciativa torna a presidente mais humana e próxima da população.

Entre os fatores que desgastam o a presidente está o ajuste fiscal proposto pela equipe econômica para reorganizar as contas públicas. Embora, aos poucos, o Congresso aprove as medidas editadas pelo governo, o teor restritivo principalmente dos direitos trabalhistas e de benefícios sociais ajudam a explicar a corrosão da popularidade de Dilma. Mesmo nas previsões da equipe econômica, os efeitos positivos do arrocho de agora somente serão sentidos pelos brasileiros em meados de 2016.

No esforço de melhora da imagem, o Planalto aposta em um pacote de concessões públicas montado para ser lançado na terça-feira (9). A ideia é passar para a iniciativa privada a administração de rodovias, ferrovias, pontes, portos e aeroportos, estratégia encontrada para compensar a queda nos investimentos oficiais. As restrições orçamentárias e o impacto das investigações da Operação Lava Jato – que desbaratam uma gigantesca rede de corrupção na Petrobras – paralisaram as grandes obras do País, o que emperra o crescimento econômico e pressiona para cima os índices de desemprego. Para reverter essa tendência maléfica para a saúde financeira dos brasileiros, o Planalto confia no interesse de grandes empresas estrangeiras no pacote de concessões.

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Outra frente de socorro a Dilma surgiu dentro do PT. O partido da presidente resiste ao ajuste fiscal e até mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribuiu para as críticas às iniciativas da equipe econômica. Agora, às vésperas do 5° Congresso Nacional da legenda, Lula e a direção petista pedem aos militantes que moderem os ataques contra o governo. No encontro, em Salvador, o PT terá de fazer dura escolha entre apoiar as medidas impopulares de Dilma e arcar com as consequências nas próximas eleições, ou permanecer na postura de cobrança exibida nesse primeiro semestre de 2015. Nessa linha, será determinante a decisão que a presidente tomará em relação ao fim do fator previdenciário, aprovado pelo Congresso. A derrubada da regra para aposentadorias instituída pelo governo Fernando Henrique Cardoso é uma antiga bandeira do PT, mas, nesse momento, desagrada ao governo por prejudicar a arrumação das contas públicas. Se Dilma vetar esse item, os petistas ficarão ainda mais desconfortáveis junto às suas bases eleitorais.

A estratégia para a retomada da popularidade da presidente prevê também algumas ações midiáticas. O ministro Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação, orientou os bancos estatais a fazer campanhas que preguem a paz no País. Também se prepara uma aparição de Dilma no programa de entrevistas de Jô Soares, na TV Globo. Jô é um dos mais populares humoristas e apresentadores do País e, nos últimos meses, deu seguidas demonstrações de simpatia pela petista. Na avaliação dos assessores palacianos, essa será uma jogada de mestre para alavancar os índices de aceitação da chefe junto à população. Além disso, planejam que Dilma pedale muito nos próximos meses.

Foto: Ed Ferreira/Folhapress