Para ganhar os ares, o homem se inspira desde a Antiguidade na leveza e agilidade dos pássaros. Após 95 anos da histórica decolagem da aeronave 14 Bis, projetada por Santos Dumont, a natureza prova que ainda pode ensinar muito aos engenheiros. É o que sugerem dois estudos publicados na última edição da revista científica britânica Nature.

Antes de partir para viagens de milhares de quilômetros, aves migratórias, como o maçarico, se entopem de comida para armazenar energia. Só assim são capazes de cruzar os hemisférios Norte e Sul, contando apenas com escalas para dormir. Sempre se imaginou que, com o “tanque cheio”, os animais teriam mais dificuldades de deslizar no ar. Portanto, seriam obrigados a gastar mais “combustível”. Colocados em túneis com correntes de ar, os maçaricos foram observados por biólogos suecos e holandeses e demonstraram que eficiência é a qualidade que mais esbanjam. Quando ganham até o dobro do peso normal, eles se mantêm no ar gastando menos energia do que se imaginava até então. Constatado o prodígio, o próximo passo agora é descobrir quais as causas do fenômeno. O que o estudo sugere é que pássaros dão um show de asas quando comparados aos aviões. Nas primeiras horas de vôo, as máquinas precisam injetar mais potência no motor – uma maneira de compensar o peso extra das toneladas de combustível que levam ao decolar. “Se os aviões agissem como os pássaros, teriam mais autonomia e gastariam menos combustível”, afirma o biólogo José Eduardo Pereira Bicudo, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.

O poético desenho em V que os pássaros riscam no céu de todo o planeta ao voar em grupos também foi objeto de estudo. Quando os que lideram o bando se deslocam, geram uma corrente de ar que ajuda o time de trás a planar por mais tempo e com menos esforço. Ao utilizarem câmeras de vídeo para registrar a frequência do batimento das asas de pelicanos e um sensor preso às costas das aves para captar as batidas do coração, os pesquisadores concluíram que quem pega carona na corrente de ar economiza até 14% de energia. Como as aves cumprem uma espécie de rodízio, no grupo inteiro a economia média é de apenas 3,4%. É como se o pássaro líder fosse para trás da fila aproveitar o trabalho dos outros para descansar. Voar em V também é algo copiado pelo homem. Caças militares adotam essa disposição no céu quando voam em conjunto porque ela não tampa a visão dos retardatários e permite enxergar alvos com mais facilidade.


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