Em viagem a Cuba, em 2007, quando nas ruas e na imprensa especulava-se sobre a possível morte de Fidel Castro, o fotografo Daniel Kfouri escutou, em uma conversa de bar, que os verdadeiros heróis da revolução não eram Fidel ou Che Guevara, mas o povo cubano. Seu olhar sobre Havana seria então guiado pela ideia de que é no detalhe prosaico da vida nas ruas que se escondem suas glórias. Desenhava-se ali uma postura que o conduziria por sua trajetória como fotojornalista, em coberturas de grandes eventos como os mutirões de salvamento nos escombros provocados pela chuva e deslizamentos de terra, em Nova Friburgo, RJ, em 2012, ou nas já históricas manifestações e convulsões sociais detonadas pelo aumento da tarifa de ônibus, em 2014. Hoje Kfouri volta ao expressivo conjunto de imagens cubanas que, reunidas sob o título “Heróis”, entram em sua última semana de exposição na Doc Galeria, em São Paulo.

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Com curadoria e texto de apresentação do também fotografo João Castilho, a mostra traz a série de fotografias de Havana editadas em formatos de dípticos e trípticos. Isto significa que cada uma das cenas da vida em movimento – flagradas nas esquinas, nas calçadas ou enquadradas desde janelas de carros – foram montadas em modo sequencial, formando pequenas narrativas visuais em dois ou três tempos. Dessa forma, a edição, procedimento próprio do cinema, foi apropriado pelo fotógrafo para conferir uma qualidade temporal a imagens que originalmente eram estáticas.

Os pontos de encontro entre as imagens são sempre determinados por grandes áreas de sombra que, segundo João Castilho, são reveladoras e mostram “por apagamento”. O resultado desse procedimento de montagem é de fato revelador, pois reproduz o modo como vemos o mundo: em fragmentos fugazes, como rasgos e frestas que se pronunciam entre momentos de lapso e lucidez. PA 


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